sábado, 26 de junho de 2010

Aonde Começou a Maçonaria, foi no Egito?

Charles Evaldo Boller

Existem registros que existiram organizações de pedreiros desde tempos imemoriais, inclusive especulações que tenha existido uma no Jardim do Éden, mas associar isto com Maçonaria não passa de fantasia de escritores de ficção bem criativos.

Sem fatos e dados documentais não se valida a história do homem, mesmo que esta sempre sofra um pouco da influência do historiador, por mais técnico que seja. Por conta de historiadores, técnicos sérios, chegaram até nossos dias informações e fatos, devidamente comprovados, que a ordem maçônica vem se desenvolvendo a partir de grupos profissionais que trabalhavam com a pedra, pedreiros, organizados em entidades semelhantes aos atuais sindicatos. Estes grupos de trabalhadores da pedra constituíram sociedades fechadas e ligadas a construção de grandes obras em pedra lavrada que existiram na Europa, confrarias de ofícios, depois denominadas comunidades de ofício e por último, corporações de ofício. Temos notícia deste tipo de organização profissional advindo da Inglaterra na idade média, onde era denominada "Gild", traduzido para guilda. Estas se transformaram depois em "company", e posteriormente em "fraternity". Assim como nas atuais agremiações e agrupamentos de profissionais, aqueles compartilhavam os segredos da profissão, à semelhança de todo grupo profissional que tem segredos guardados mediante um linguajar próprio e até esotérico. Para entrar numa agremiação profissional é necessário obter treinamento, estar devidamente regulamentado e registrado no órgão representativo da classe. Aqueles profissionais da idade média, com o objetivo de manter o segredo dos métodos de trabalho exigiam segredo de todas as técnicas da construção e as velavam por promessas, juramentos, senhas, palavras de passe para acessar o canteiro de obras e outros artifícios. A guilda foi conseqüência de antigos canteiros de obras administrados pela ICAR, Igreja Católica Apostólica Romana, mediante a atuação de monges arquitetos na construção de igrejas e palácios. Quando os profissionais desta área se afastaram da liderança dos monges, seus antigos mestres e arquitetos, surgiram as guildas. Os monges, de sua parte, obtiveram o conhecimento da antiga civilização grega, as adaptaram e aplicaram na construção de sua época. As guildas eram formadas de aprendizes e companheiros, submetidos a rígida disciplina, funcionando os monges como mestres de obra.

Desde o século quatorze existe na Inglaterra registro público de companhias de pedreiros ou maçons e maçons livres. Inglaterra e França são berços da Maçonaria especulativa hodierna. Seus criadores aproveitaram-se da estrutura de funcionamento disciplinada, ordeira e fechada das antigas guildas para estabelecer o ambiente próprio ao debate de temas profundos das ciências e da sociedade. Foi no século das luzes que grandes pensadores reuniram-se para planejar a transição ao mundo moderno, sendo-lhes creditada a filosofia e a construção da modernidade. Eram homens, em sua maioria radicais e corajosos, opunham-se a mesmice liderada por ignorantes e extremistas religiosos que vedavam e dificultavam o desenvolvimento das ciências e do livre comércio. Estes grandes pensadores extirparam as raízes da cultura européia principalmente com relação ao que na época era considerado sagrado, mágico. Aqueles cientistas e filósofos criaram a Maçonaria para obter um fórum de debate para suas idéias e as foram registrando numa grande obra literária, por isso ficaram conhecidos como os enciclopedistas. Seus escritos foram distribuídos pela Europa e Américas, muitos adquiriram assinatura para receber estas publicações as quais eram devoradas avidamente e influenciaram a sociedade, dando-lhe o contorno que hoje se vê. Absolutismo, monarquia e hierarquia foram secularizadas, aflorou uma sociedade laica. Com os debates protegidos da perseguição religiosa e velados por juramentos, seus registros cifrados em linguagem simbólica e outros métodos de criptografia, os fóruns de debate da sociedade foram se desenvolvendo até adquirir sua forma na Maçonaria especulativa que herdamos.

O século das luzes, 1650-1750, foi o berço da Maçonaria - o resto é lenda, meras conjecturas ou considerações românticas. O Egito possuía cabedal na construção da pedra, haja vista as grandes obras que chegaram até nossos dias, mas de forma alguma é origem da Maçonaria. Outras civilizações antigas também nos apresentam os resultados de suas técnicas do trabalho na pedra e tijolo e igualmente nada contribuíram para a formação das agremiações de pedreiros. Nada tem que as relacione com a Maçonaria, seja ela operativa ou especulativa. A ordem maçônica é resultado da ansiedade de evolução que era tolhida em seu desenvolvimento pelos radicais religiosos e baseadas exclusivamente nas guildas da idade média. Lojas especulativas foram se organizando desde 1600, na Escócia, e atingiram o auge no final daquele século. No início do século dezoito a fase especulativa da Maçonaria aumentou, foram estabelecidas lojas em York, mas foi em Londres que o movimento explodiu, surgindo diversas lojas. Naquela ocasião, Anderson e Payne, apresentaram estudos sobre a primeira constituição que constitui o ponto de partida do direito maçônico moderno, em uso até hoje. Existe evidência que são alicerce dos fundamentos filosóficos da Maçonaria especulativa:

· Bíblia judaico-cristã;

· Registros egípcios dos mortos; e

· Rudimentos filosóficos creditados aos vetustos essênios.

O Rito Escocês Antigo e Aceito usa como principal referência os livros da bíblia judaico-cristã.

O principal movimento filosófico que fez surgir a Maçonaria ficou registrado na história como Iluminismo, mas em sua existência a ordem maçônica, como entidade moral e evolutiva, vem se alimentando de todas as linhas de pensamento moralmente aceitáveis e que proporcionem o progresso, união e igualdade dos homens. É a razão de existência do imenso número de ritos e obediências. Não poderia ser diferente e vai continuar se fragmentando enquanto houver futuro para a espécie. Felizmente é devido a esta diversificação que a Maçonaria ainda cumpre com seu papel de desenvolver o homem, alicerçada em forte moralidade e voltada sempre para a evolução e melhoria humana quando combate absolutismo e obscurantismo.

Luz é o que se busca na Maçonaria, luz é o que se recebe quando se caminha na direção definida pela ordem. É a luz do conhecimento, da verdade. "Sapere aude"! - bradou Horácio, - ouse saber! - diz a Maçonaria. A iluminação já está latente dentro do maçom quando este é escolhido e retirado como pedra bruta da pedreira da sociedade. A Maçonaria apenas revela o caminho para a luz, mostra caminhos.

O maçom é provocado em deixar de lado a indolência e passa a ser motivado em caminhar com o esforço de suas próprias pernas, discernimento, razão, emoção e espiritualidade. Não existe varinha de condão ou mágica! É muito suor, persistência e trabalho em si mesmo. O primeiro exemplo é dado por ocasião da iniciação, aonde o cidadão precisa de quem o guie, é introdução para muitas experiências, lendas e exemplos do sistema maçônico de educação natural. Apontam-se apenas direções e rompem-se os grilhões dos pensamentos e emoções, sempre alicerçadas em sólida espiritualidade. O desenvolvimento é racional, mas o uso da razão está sempre acompanhado da crença que existe uma mente orientadora por detrás de toda a maravilhosa natureza de que cada ser vivente é parte. A suprema liberdade aflora quando o maçom deduz que:

· Todo aquele que se submete ao pensamento de outros, por preguiça de pensar, é escravo;

· Um homem domina o outro através da força do pensamento, da capacidade de realização do pensamento;

· Todo desenvolvimento humano surgiu primeiro na mente.

A caminhada é realizada individualmente pelas sendas da auto-educação natural, do "conhece-te a ti mesmo" socrático, pedra angular da filosofia da Maçonaria. Este conhecimento dos rumos para a iluminação é a responsável por mudar o homem, e este, por sua ação modificadora, influi na sociedade. E assim, caminhando para o futuro, em direção a luz, apoiado em forte espiritualidade e vontade evolutiva, com amor, o maçom dá honra e glória ao Grande Arquiteto do Universo.

sábado, 19 de junho de 2010

ADMINISTRAÇÃO E LIDERANÇA DE UM LOJA MAÇÔNICA


Parte I - Uma Rápida História da Teoria da Administração
Nesta série de artigos, serão apresentados alguns trabalhos que, com base na teoria da Administração, visam trazer à tona uma série de questões. Estas são normalmente vistas na vivência pessoal dos Irmãos. Mesmo assim, a série de artigos "Administrando Maçonaria" se propõe a mostrar como a "Academia" trata tais questões, de forma que nos possa ajudar no dia-a-dia das Lojas.
A Teoria da Administração é decorrência daquilo que ocorre nas organizações e tem se tornado cada vez mais abrangente. Começou como uma teoria preocupada com poucos aspectos e vem expandindo o seu objeto de estudo com o passar dos anos. Esta expansão pode ser dividida em cinco grandes fases, descritas a seguir:
1a. fase - Ênfase nas tarefas
Tendo seu início com o engenheiro americano Frederick Taylor (1856-1915), é a fase em que administrar significa planejar e racionalizar as tarefas a serem executadas pelos subordinados. A preocupação básica do administrador é metodizar o trabalho do operário, fazendo uma abordagem ainda muito limitada da administração. Tal limitação é explicada por dois fatores: sua abordagem microscópica (feita a nível do operário) e pelo seu apelo mecanicista (estudo de tempos e movimentos, medidas para neutralizar a fadiga, seleção científica do operário, etc.).
Esta visão trata a organização como se cada membro individualmente contribuísse deterministicamente na maximização da eficiência, conforme uma grande engrenagem ou uma grande colméia. Por isso, uma boa administração deve ficar muito atenta para não tratar as pessoas como somente meras abelhas operárias, pois cada ser humano tem sua individualidade e características próprias.
Apesar de seu aspecto mecanicista, Taylor é considerado o pai da Administração Científica, dando o primeiro impulso ao estabelecimento da Administração como Ciência.
2a. fase - Ênfase na estrutura organizacional
É a fase em que administrar é, sobretudo, planejar e organizar a estrutura de órgãos que compõem a instituição, adequando os cargos aos fins que se deseja alcançar. São três as abordagens nesta visão: a Teoria Clássica de Fayol, a Teoria da Burocracia de Weber e a Teoria Estruturalista.
A Teoria de Henri Fayol (1841-1925) tem como principais características:
A proporcionalidade da função administrativa - Toda empresa possui funções técnicas, comerciais, financeiras, contábeis e administrativas; sendo a última é relacionada com a integração das outras funções. Contudo, a função administrativa não é privativa da cúpula. Ela se reparte proporcionalmente por todos os níveis hierárquicos, pois a medida que se desce na escala hierárquica, aumenta a proporção das outras funções. Neste sentido, parece natural que os mais altos cargos tenham menor compreensão dos aspectos técnicos e cotidianos da organização. Assim, os líderes devem ficar muito atentos a não se distanciarem exageradamente dos seus comandados.
Os elementos da administração - As funções administrativas englobam cinco elementos que, quando em conjunto, constituem o processo administrativo. Estes elementos são: previsão, organização, comando, coordenação e controle.
Princípios gerais da administração - Como toda ciência, a Administração deve se basear em princípios aplicáveis a todas as situações. Neste trabalho, serão citados apenas dois: o princípio da divisão do trabalho que designa tarefas aos órgãos ou pessoas e o princípio da autoridade e responsabilidade, onde a autoridade é derivada da posição ocupada pela pessoa e sua responsabilidade é uma conseqüência natural. Ambas devem estar equilibradas entre si.
Na Teoria da Burocracia de Max Weber (1864-1920), o termo burocracia não tem o significado pejorativo de uso cotidiano, mas um significado técnico que identifica uma organização formal que, para funcionar de modo ideal, ter deve algumas características (dentre outras): 1) Formalização - todas as atividades são definidas por escrito. 2) Divisão do trabalho - cada participante tem cargo e posição bem definidas e especificadas. 3) Impessoalidade - o funcionário ideal desempenha com impessoalidade o seu relacionamento com outros ocupantes de cargos. 4) Separação entre a propriedade e a administração - os recursos das organizações não são de propriedade dos burocratas.
Contudo, o comportamento das pessoas não ocorrem dentro da previsibilidade de Weber. Estas conseqüências indesejadas são chamadas disfunções da burocracia, cujas principais características são a despersonalização do atendimento dos serviços, a valorização das normas acima do trabalho, excesso de papelório e formalismo, autoritarismo (ênfase na hierarquia), conformidade e resistência a mudanças.
A Teoria Estruturalista se desenvolveu a partir das limitações do modelo burocrático. Nele, verificou-se que a inovação e a mudança trazem conflitos; e que estes são um importante sinal de vitalidade dentro das organizações. A administração do conflito passa a ser um elemento crucial na função administrativa. A teoria Estruturalista representa um período de transição na Administração.
3a. fase - Ênfase nas pessoas
É a fase em que administrar é, sobretudo, lidar com pessoas. É chamada de abordagem humanística e se desdobra em duas escolas descritas a seguir:
A Escola das Relações Humanas teve em Elton Mayo (1880-1949) e Kurt Lewin (1890-1947) seus principais precursores. Trata-se de uma abordagem liberal de oposição as obras de Taylor e Fayol, pois substitui conceitos como: eficiência, estrutura e hierarquia por princípios desenvolvidos a partir da Psicologia e Sociologia Industrial como: motivação, necessidades, dinâmica de grupo, etc.
Segundo esta concepção, o homem é motivado basicamente por recompensas sociais e simbólicas, pois as necessidades psicológicas são as mais importantes. A partir de uma experiência de Hawtone (1927-1932), surgem inúmeras pesquisas para comprovar cientificamente algumas conclusões dos autores humanistas.
A Teoria Comportamental salienta que a decisão é muito mais importante do que a execução que se sucede. As organizações são visualizadas como um sistema de decisões. Logo, essa abordagem compara estilos de administração que potencializem motivações e minimizem conflitos e incongruências.
4a. fase - Ênfase na tecnologia
É a fase em que administrar é lidar com a tecnologia, a fim de extrair dela melhor eficiência. Muito embora Taylor e seus seguidores tenham se preocupado bastante com a tecnologia, suas pesquisas enfocaram estritamente a tarefa individual. Nesta quarta fase, e tecnologia tem o papel de determinar a estrutura e o funcionamento das organizações, trazendo à tona o conceito de sistema sócio-técnico - que integra o subsistema social ou humano com o tecnológico.
5a. fase - Ênfase no ambiente
É a fase em que administrar é, sobretudo, lidar com as demandas do ambiente. Verificou-se que o estudo das variáveis internas não proporciona uma compreensão ampla. Torna-se necessário levar em conta variáveis situadas fora dos limites da organização
Neste sentido, alguns autores falam em "imperativo ambiental", afirmando que características das organizações são determinadas pelo ambiente que as cercam. Além disso, deixa de existir uma única melhor maneira (the best way), pois as soluções dependem do mutável ambiente externo - Teoria da Contingência.
Fase atual
Através de suas várias fases, a Teoria da Administração acumulou os diferentes enfoques apresentados. Atualmente, estuda-se as organizações do ponto de vista da interação e da interdependência entre as cinco variáveis principais - TAREFAS, PESSOAS, TECNOLOGIA, AMBIENTE e ESTRUTURA, onde o comportamento do conjunto funciona diferentemente da soma dos comportamentos de cada variável isoladamente.
Deste modo, uma administração moderna e balanceada deve levar em conta os cada um dos aspectos apresentados, seja em que nível ela ocorrer.
Parte II
Dando continuidade aos artigos da série "Administrando Maçonaria", este trabalho tem por objetivo tratar o assunto da motivação - fundamental para o bom andamento das atividades de uma Loja Maçônica.
A Motivação Humana
Para se compreender o comportamento humano, é fundamental o conhecimento da motivação humana. O conceito de motivação é utilizado com inúmeros sentidos. No entanto, de modo genérico, motivo é tudo aquilo que impulsiona a pessoa a agir de determinada forma. Logo, todos os atos do indivíduo são guiados pela cognição, isto é, aquilo que ele pensa, acredita e prevê.
Quando se analisa o motivo pelo qual um indivíduo age de determinada forma, entra-se na questão da motivação. E a grande resposta pode ser dada em termos das necessidades humanas, ou seja, o homem é impulsionado por suas necessidades.
Como as pessoas diferem muito entre si, as necessidades humanas, os valores pessoais e capacidades intelectuais que motivam e influenciam seus comportamentos variam de indivíduo para indivíduo. Além disso, estas três variáveis variam com o tempo e a idade.
Apesar de todas as dificuldades, o processo que dinamiza o comportamento humano é relativamente semelhante. Existem três suposições que tentam explicar o comportamento humano:

O comportamento humano é causado, ou seja, existe sempre uma causa para determinada ação.

O comportamento humano é motivado, ou seja, há sempre uma finalidade em todo comportamento humano.

O comportamento humano é orientado para objetivos pessoais. Subjacente a todo ato, existe sempre um "impulso", um "desejo", uma "necessidade" ou uma "tendência".
Se estas três suposições estiverem certas, o comportamento humano não é espontâneo, nem isento, de finalidade: sempre haverá algum objetivo implícito ou explícito que orienta o comportamento das pessoas.
Uma forma de explicar o comportamento das pessoas é através do ciclo motivacional: EQUILÍBRIO INTERNO - ESTÍMULO ou INCENTIVO - NECESSIDADE - TENSÃO - COMPORTAMENTO ou AÇÃO - SATISFAÇÃO. Com a repetição deste ciclo (reforço) e com a aprendizagem daí decorrente, os comportamentos, ou ações, tornam-se gradativamente mais eficazes. Por outro lado, uma necessidade satisfeita não é motivadora de ação já que não causa tensão, desconforto ou desequilíbrio. "Uma pessoa sem fome não é motivada a procurar comida."
A Hierarquia das necessidades
Nesta teoria da motivação desenvolvida por Maslow, as necessidades humanas são organizadas em uma hierarquia, formando uma espécie de pirâmide.

Necessidades fisiológicas: são vegetativas e relacionadas com a fome, cansaço, sono, desejo sexual etc. Dizem respeito a sobrevivência do indivíduo, constituindo pressões fisiológicas.

Necessidades de segurança: levam o indivíduo a proteger-se de qualquer perigo real, imaginário, físico ou abstrato.

Necessidades sociais: relacionadas com a vida associativa do indivíduo com outras pessoas - amor, afeição, amizade.

Necessidades de estima: relacionadas com a auto-avaliação e auto-estima dos indivíduos que conduz a sentimentos de autoconfiança, reputação, reconhecimento, amor próprio, status, força, poder etc.

Necessidades de auto-realização: relacionadas com o desejo que cada indivíduo tem de realizar seu potencial - a realização plena dos talentos individuais.
Os Dois Fatores
Outra teoria, chamada de "dos dois fatores", explica o comportamento no trabalho dos indivíduos. Para ela, existem dois fatores:

Higiênicos: Se localizam no ambiente que rodeia o indivíduo e se referem as condições de trabalho. Estes fatores não estão sob controle da pessoa, sendo administradas pela organização. Estes fatores, quando ótimos, apenas evitam a insatisfação. Por essa razão, são chamados de preventivos ou profiláticos.

Motivacionais: São relacionados com o conteúdo do cargo ou com a natureza das tarefas que o indivíduo executa. Tais fatores estão sob controle do indivíduo e englobam sentimentos de auto-realização e crescimento individual.
Em resumo, pode-se dizer que a satisfação é função do conteúdo ou das atividades desafiadoras, ou seja, dos fatores motivacionais. Por outro lado, a insatisfação é função do contexto geral (ambiente, colegas), ou seja, dos fatores higiênicos.
As duas teorias da motivação apresentam aspectos de concordância. Os fatores higiênicos se referem as necessidades primárias (fisiológicas, segurança e sociais) enquanto que os fatores motivacionais se referem às chamadas necessidades secundárias (estima e auto-realização).
Fundamental para o bom desempenho de qualquer organização, a motivação requer um tratamento das necessidades de seus participantes assim como o oferecimento dos fatores vistos acima. Desta forma, pode-se obter um bom clima organizacional.
Parte III
Dando continuidade aos artigos da série Administrando Maçonaria, este trabalho tem por objetivo tratar o assunto da liderança em uma organização.
Liderança
Para uma organização produzir seus resultados, o administrador deve desempenhar diversas funções. Entre tais funções, destaca-se a Liderança e o uso adequado de incentivos para obter a motivação. Estas duas funções requerem uma compreensão básica das necessidades humanas e dos meios pelos quais sào satisfeitas. Em suma, o administrador deve ser, antes de tudo, um líder que conhece a motivação humana.
Liderança não significa a mesma coisa que direção. Um bom dirigente deve ser um bom líder mas nem sempre um bom líder é um bom dirigente. Eles não estão somente no nível institucional, mas em todos os níveis da organização e nos grupos informais de trabalho. Neste sentido, "Liderança é a influência interpessoal exercida numa situação e dirigida através do processo de comunicação humana à consecução de objetivos específicos". Tal definição tem duas dimensões: a primeira é a capacidade de motivar as pessoas a fazer aquilo que precisa ser feito. A segunda é a tendência dos seguidores a fazer aquilo que eles percebem como instrumentais para satisfazer suas necessidades e objetivos pessoais. Concluindo, o líder deve ser capaz e os seguidores devem ter vontade.
A líderança pode ser estudada em termos de estilo de comportamento do líder em relação aos seus subordinados. Em geral, caracteriza-se um estilo de liderança dentre três tipos:
Autocrática - São fixadas as diretrizes, determinando as providências e técnicas para a execução das tarefas a medida da necessidade. Ele também determina a tarefa que cada indivíduo deve executar, juntando-os em grupos de trabalho. Assim, o líder é dominador e "pessoal" nos elogios e críticas ao serviço de cada membro.
Democrática - As diretrizes são debatidas e decididas pelo grupo com assistência e estímulo do líder. O grupo esboça as providências e as técnicas para atingir o alvo, solicitando aconselhamento técnico através de diversas alternativas; o que traz intenso debate. A divisão de tarefas fica à critério do próprio grupo e todos têm a liberdade de escolher seus companheiros de trabalho. O líder procura ser um membro "normal" do grupo, sendo objetivo e limitando-se aos fatos em suas críticas e elogios.
Liberal - Há liberdade completa para as decisões grupais, com participação mínima do líder. Nos debates, ele apresenta apenas dados informativos, esclarecendo o que pode ser útil ao grupo. Tanto a divisão de tarefas quanto a formação de grupos é feita sem sua presença, ficando a cargo do grupo. Além disso, o líder não tenta avaliar ou regular o curso dos acontecimento, comentando as atividades quando perguntado.
Em 1939, R. Lipitt e R. White fizeram um estudo para verificar o impacto causado pelos três estilos de liderança em meninos de dez anos. Os rapazes foram divididos em grupos e submetidos à liderança com os três estilos. Resumidamente, o resultado foi:
Na liderança autocrática, o comportamento do grupo mostrou forte tensão, frustação e sobretudo agressividade de um lado; do outro nenhuma espontaneidade, nem iniciativa ou formação de grupos de amizade. As atividades só eram cumpridas com a presença física do líder. Quando este não estava presente, os grupos expandiam sentimentos reprimidos como indisciplina e agressividade.
Na liderança liberal, a atividade do grupo era intensa mas a produção medíocre. As tarefas se desenvolviam ao acaso e com muitas oscilações, perdendo-se muito tempo com discussões de motivos pessoais não relacionadas com o trabalho em si. Foi notado individualismo agressivo e pouco respeito com o líder.
Na liderança democrática, houve formação de grupos de amizade e relacionamentos cordiais. O líder e os subordinados passaram a desenvolver comunicações espontâneas e o trabalho mostrou um ritmo suave e seguro, sem alterações, mesmo quando o líder se ausentava. Houve um nítido sentimento de responsabilidade, impressionante integração grupal.
A partir desta experiência, passou-se a defender intensamente o papel da forma democrática - compatível com o espírito americano da época. Nasceu a liderança comunicativa, que encoraja a participação do empregado e que se preocupa também com os problemas das pessoas.
No entanto, o líder utiliza os três estilos de liderança na vida prática, dependendo da situação, das pessoas e tarefas. Neste aspecto, existe outra maneira de estudar liderança. Esta é uma abordagem situcional que sugere uma gama bastante ampla de padrões de comportamento, dentro do chamado continuum de padrões de liderança - sem extremos e sem pontos absolutos. Em suma, o líder esta constantemente sintonizando suas ações e seus métodos de trabalho.

GRUPO MAÇÔNICO ORVALHO DO HERMON
Fundado em 31 de maio de 2006 - ANO V
Rio de Janeiro – RJ – Brasil

sábado, 12 de junho de 2010

Herança Educacional Iluminista

Charles Evaldo Boller

Foram significativas as mudanças que se manifestaram na Europa durante o século XVIII, e entre estas surgiu a Maçonaria Especulativa (1717), como parte ativa do processo de gradativa migração do poder para a burguesia, concentrado até então na nobreza e no clero. O Teocentrismo Medieval, Deus como centro de tudo, há muito instigava ao lançamento de idéias que fortaleciam o poder do cidadão. Aos poucos o poder absoluto sobre o cidadão foi desaparecendo e definiram-se os contornos da Democracia. Na época, por herança de práticas e costumes medievais, os nobres viviam à custa dos esforços de outros cidadãos da sociedade, o que prejudicou o nascimento da indústria e dificultava o livre comércio.

Com a invenção e desenvolvimento da máquina a vapor entre 1765 e 1790, por James Watt (1736-1819), se estabelece o início da Revolução Industrial, marca do fim do poder de imperadores e papas, e nascimento do poder do povo. Os burgueses, na Revolução Francesa (1789-1799), usaram de palavras cunhadas por Rousseau (1712-1778) que estabeleceram princípios de liberdade, igualdade e fraternidade através das luzes, divisa usada até hoje pela Maçonaria. Onde a Luz dos iluministas significava o poder da razão humana de interpretar e reorganizar o Universo. O Movimento Iluminista visava inicialmente à liberdade de pesquisa científica, ação que através de Rousseau estendeu-se depois para a educação natural com ênfase no condicionamento moral e cívico.

O Século das Luzes teve inúmeros mentores, cuja ampla maioria concordava que, em resumo, apenas a educação poderia proporcionar os meios para livrar os homens das garras do poder absoluto que embotava o desenvolvimento. Qualquer poder estabelecido sabe, e a Maçonaria promove, que um povo instruído e educado é mais difícil de conduzir com dogmas e crendices, mas é mais feliz porque assume o controle da sua convivência pacífica na sociedade.

O Liberalismo foi outra forte movimentação da burguesia. Atuando na economia, François Quesnay (1694-1774) e Adam Smith (1723-1790) representam as aspirações do cidadão em gerenciar seus próprios negócios sem a interferência do Estado. Defendia-se a economia perseguindo caminhos ditados por leis naturais, onde a figura de um Estado intervencionista não existe. Na política, os mesmos ideais liberais lutavam de todas as formas contra o absolutismo. Na moral buscavam-se formas laicas de tornar naturais as ações do comportamento humano.

Por conta de abusos clericais e da inquisição, que durou mais de seiscentos anos, de 1183 até 1821, o Iluminismo rejeitava a adesão à religião. Principalmente às filosofias religiosas povoadas de fantasias e alegorias ilógicas e impostas como verdades, que pelo aspecto verossímil são colocadas como fatos verdadeiros ao invés de declaradas de origem ficcional, apenas para fins de ilustração de verdades e filosofias.

Os iluministas combatiam os dogmas que em religião estabelecem invenções forçadas, inverossímeis, determinadas por decreto pela autoridade religiosa como verdade divina revelada e que o adepto tem por obrigação acatar; são imutáveis; verdades absolutas que sequer permitem discussão, nem mesmo pensar em contestação; imposição que determina como o adepto deve pensar e até sentir. Foi contra as religiões que impõem dogmas e fantasias, que os iluministas se rebelaram; não eram ateus, muito ao contrário! - Isto, mesmo hoje, não passa de acusação leviana, falsa e insidiosa de parte dos detratores do Iluminismo. Defendiam o aporte de uma religião natural, com orientação mais racional de fé, ou crença naquilo que não é visto e ser apenas sentido ou intuído. Bastava-lhes a fé num princípio criador - semelhante ao que era percebido pelo pensamento lógico do homem da natureza, o qual percebia a impossibilidade de sua existência ser obra do acaso; para o qual é aceitável a existência de uma mente criadora lógica e orientadora da exuberante e diversificada natureza que o cercava e servia; e com a qual vivia em dependência. Hoje se reconhece a simbiose evolutiva como obra criativa, onde a criação é resultado da cooperação e co-evolução das células em processos evolutivos cada vez mais intrincados e complexos orientados por leis definidas por uma mente orientadora, conceito ao qual o maçom denomina Grande Arquiteto do Universo.

O Iluminismo influenciou o Deísmo, doutrina que considera a razão como a única maneira de assegurar a existência de Deus. Principalmente por isto, os detratores do Iluminismo acusaram o movimento de introdutor do ateísmo na sociedade moderna, entretanto, aquele movimento defendia a religião natural, sem dogmas e fanatismo. Para o iluminista, Deus é o Primeiro Motor, o Supremo Criador. Desta magnífica idéia a Maçonaria, que não é religião, herdou o conceito Grande Arquiteto do Universo, o que possibilita a reunião de diversas linhas filosóficas e religiosas num mesmo foro de debate, que de forma proativa discute os problemas da sociedade e do homem; ato impossível para outras instituições, mormente religiões que nunca se entendem e provavelmente nunca chegarão a acordos fraternos na solução de qualquer problema devido ao ódio que nutrem entre si e aos que não concordam com seus dogmas.

Na prática maçônica, as proibições de discussões religiosas nada têm de incentivo ao ateísmo, mas têm por finalidade afastar o maçom de discussões vazias dentro do pântano do fundamentalismo religioso e o conduzir para uma espiritualidade natural, respeitando crenças e a religião de seus irmãos, independente de qual seja. O ateu não é recebido pela Ordem Maçônica; para entrar é exigida crença num Princípio Criador e numa vida futura. Para o maçom a espiritualidade é parte do corpo, é sentida como a plenitude da mente e do corpo; mente e corpo vivos, formando uma unidade. Os momentos de consciência espiritual são observados como unidade, uma percepção de pertencer ao Universo como um todo. A Loja estabelecida é representação deste Universo, o útero da criação, de onde o homem é parte integrante do todo. Quando o maçom contempla a Loja como representação do Universo, percebe que não está lançado em meio ao caos. "Ordo ab Caos", ordem no caos, é sua divisa e inspiração de que é parte de um projeto maior, de uma ordem mais elevada, parte integrante de uma imensa sinfonia da vida conduzida pelo Grande Geômetra, o Maestro da Criação e Grande Arquiteto do Universo. A sua projeção de vida futura é construída no fato de que o seu corpo nunca morrerá e remanescerá vivo, mesmo depois que seu corpo se desfizer em seus elementos moleculares a vida continua. E não apenas o sopro da vida, que é comum a todos os seres viventes, continua vivo, mas também os princípios da organização vital dos seres viventes da biosfera. É esta consciência de ser parte do Universo, de ser esta a sua casa, é desta sensação de pertencer, de ser parte do todo que desperta no maçom o mais respeitoso e profundo sentido para a vida.

Quando na Maçonaria a Bíblia Judaico-cristã é utilizada na construção de parábolas e alegorias, na representação de pensamentos e ideias de forma figurada, os textos são utilizados apenas como referência para a criação de estórias. As alegorias copiadas e depois adaptadas são pura ficção! Verossimilhança que serve apenas de suporte para a criação de parábolas que auxiliam na educação natural; esta utilização é deixada bem clara para todos; é a educação da Maçonaria voltada para a liberdade; educação natural criada por Rousseau (1712-1778) e complementada por Kant (1724-1804). Por outro lado, a mesma Bíblia é utilizada nas atividades litúrgicas das lojas cristãs como Livro da Lei, a mais alta e sagrada representação do grupo, sobre a qual se fazem juramentos e promessas, e da qual se extraem pensamentos e sabedoria; o maçom cristão é constantemente instigado a usá-la como fonte de inspiração no trabalho na pedra; na absoluta maioria dos ritos, nenhuma sessão maçônica inicia sem que um trecho da mesma seja lido no momento mais solene de abertura ritualística dos trabalhos.

A liturgia e instrução maçônica constam de alegorias definidas em todos os aspectos como invenções, historinhas, fantasias, de uso puramente pedagógico e com o único objetivo de construir novas idéias pelos eternos ciclos de construção do pensamento. Estes ciclos, que Hegel (1770-1893) definiu como Contradição Dialética, constituída de: Tese, Antítese e Síntese, é base do desenvolvimento de todo o conhecimento humano: Tese é a afirmação; Antítese a negação ou complementação da Tese; Síntese a superação da contradição; é quando surge uma nova e inusitada idéia, diferente da primeira e da segunda. Então se inicia um novo ciclo de Tese, Antítese e Síntese. E o processo não tem fim. É o que ocorre nos debates da Maçonaria aonde, através da educação natural, se constroem templos, templos vivos e livres.

Estes são alguns dos aspectos do movimento Iluminista que influenciaram a Maçonaria quando de sua fundação como instituição especulativa. Mesmo bebendo de inúmeras outras fontes de inspiração simbólica e alegórica foi esta a origem de que a Ordem Maçônica se utilizou para promover a volta do homem natural perdido desde Atenas, Grécia antiga, reportado por Platão em "A República". Na Maçonaria o homem moderno tem a oportunidade de recuperar o que perdeu em virtude do desmonte da escola hodierna, colocar os pés no chão, trabalhar um templo vivo, dentro de um templo material, edificado pela Maçonaria praticamente só para a sublime finalidade do homem se auto-construir. Mas é dentro do grande templo da sociedade, um templo vivo feito por homens naturais que cada artífice trabalha na pedra, e com a sabedoria da razão, a força da vontade, ele constrói a sua beleza interior para honra e à glória do Grande Arquiteto do Universo!

GRUPO MAÇÔNICO ORVALHO DO HERMON
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