sábado, 30 de outubro de 2010

O PAPEL DO MESTRE DE CERIMÔNIAS

com Gilda Fleury Meirelles

Nascido em tempos remotos, a figura do Mestre de Cerimônias se confunde com a história do cerimonial.

Rituais, cerimônias faziam parte da rotina do homem primitivo. Temor ao desconhecido, necessidade de acreditar em algo, solidão, disputa pelo poder, tudo se transformava em cerimônias de adoração, de oferta.

Nobres à frente, súditos atrás, assessores ao lado, o anunciador dessas solenidades estava sempre em destaque. Era o início da figura do Mestre de Cerimônias.

Encontramos sua presença entre os gregos, três mil anos a.C., anunciando as fases das reuniões que aconteciam nos anfiteatros. Mil anos a.C., a China e o Japão utilizavam o Mestre de Cerimônias, para a narração dos torneios de arco e flecha. Já nessa época, ele utilizava a força e ritmo da voz para destacar as equipes mais importantes, calcado num conceito de poder e nobreza.

Na Roma antiga, ele surge na figura do chefe dos trombeteiros que, sobre seu cavalo, após o toque das trombetas, anunciava a passagem do Imperador ou as medidas reais como aumento de taxas, maior submissão, proibições e sanções.

Em nossa era, ele aparece na figura do arauto. Vestido de acordo com os costumes da época, anunciava a entrada dos convidados em festas da nobreza batendo três vezes um bastão sobre um batente, produzindo um som alto e seco.

Assim, foi se firmando a figura do Mestre de Cerimônias. Sempre em posição de destaque, iniciando e conduzindo as fases de uma solenidade, hoje diríamos que é uma das pessoas mais importantes para a implantação de um evento, pois a partir de sua presença "as coisas começam a acontecer".

Em hipótese nenhuma estamos desprezando os outros integrantes da organização de um evento - o coordenador do cerimonial, as recepcionistas, os operadores de equipamentos específicos, tradutores, manobristas, pessoal de serviços gerais. Cada um tem sua função específica na organização do evento.

Por isso, o Mestre de Cerimônias não deve ser confundido com o Chefe do Cerimonial . E isso é o que vemos sempre, resultando num acúmulo de funções para este último e comprometendo o sucesso do empreendimento.

O Chefe do Cerimonial ou Coordenador de Eventos é responsável pelo planejamento, coordenação e organização do evento, em todas as suas fases, além do protocolo de implantação com as precedências e tratamentos de acordo com a legislação específica, planejando o roteiro da solenidade.

Neste momento, entra o Mestre de Cerimônias que, a partir desse roteiro, produzirá o script final, anunciando as fases do evento.

É impossível para o Chefe do Cerimonial ser o Mestre de Cerimônias, pois o primeiro tem tantos detalhes para verificar que necessitaria, volta e meia, sair da tribuna para resolver os percalços que acontecem durante um evento. Esse corre-corre resultaria em uma ansiedade natural, comprometendo a fase mais bela do evento: a sua implantação.

Quem deve ser o Mestre de Cerimônias? Quais características precisa ter?
Precisa de conhecimento, treinamento e aperfeiçoamento de sua função; necessita saber o que faz, como sair de imprevistos, como se dirigir e conquistar a platéia, sem aparecer. Sim, sem aparecer, porque mesmo conduzindo o acontecimento, existem os anfitriões, os convidados especiais, os conferencistas e a platéia. São esses os donos do evento.

Vaidade, prepotência e arrogância não fazem parte da função do Mestre de Cerimônias. Também humildade excessiva, timidez, medo do público e pânico não combinam com ele.

Diz o estudo da oratória que para o bom orador "não adianta apenas falar com elegância, é preciso persuadir e convencer". E conta ainda que, "a diferença entre os dois maiores oradores que o mundo conheceu, Demóstenes e Cícero (Roma, ano 106 a.C.); quando Cícero discursava o povo exclamava: 'Que maravilha', e quando Demóstenes falava, o povo seguia em marcha.

É isso que o bom Mestre de Cerimônias precisa ter: determinação e entusiasmo, que convençam a platéia que está apresentando aquilo que corresponde às suas expectativas, complementados por clareza e objetividade, utilizando acima de tudo, aquilo que temos de mais forte: o dom da palavra.


 
Fundado em 31 de maio de 2006 - ANO V
Rio de Janeiro – RJ – Brasil

REFLEXÕES AO PÁLIO

Irm Erly de A. Castro

O tema merece comentários úteis a todos os maçons. Temos como primeira premissa o entendimento de que somente Mestres Fazem parte do cortejo e formação do Pálio, devidamente revestidos de suas insígnias e munidos de suas ferramentas.

Dentro da simbologia maçônica, Mestre é aquele que não guarda para si, mas procura repassar a todos os seus conhecimentos, pois já superou as iniciações regulamentares e, de mente livre, conseguiu captar a sublime beleza da nossa simbologia, ora representada pelos doze instrumentos guardados no interior das colunas, através da meditação, da harmonização e da intuição, passando a ser conhecido e chamado por Irmão Bom-Senso.
Dá morada à amizade, ao desinteresse, à harmonia e à confiança, como também à fraternidade e ao respeito, em louvor à caridade na convivência com o amor e o bem, pois a paciência lhe confere sonhos maravilhosos com o futuro e o compele a conviver com a paz e a ventura, que dependem da providência, aliada ao ideal e esperança sem se olvidar da vigilância. Sendo Mestre, abrem-se-lhe várias portas e dependerá dele não apenas se apresentar aos cargos que poderão ser-lhes deferidos, mas demonstrar o interesse e a disposição para os executar, pois somente assim, com o passar do tempo e das colheitas reconhecidamente positivas é que poderá continuar sonhando e galgando fronteiras maiores.
Entre estas fronteiras destaco, a princípio, o cargo de Mestre de Cerimônias, para início das reflexões.
De Cerimônias porque compete a ele não apenas a recepção e encaminhamento dos irmãos ou profanos, aos seus lugares, quando lhes forem conferidas estas faculdades, como também e principalmente, a preparação do cerimonial, aferindo a mais perfeita composição do Orbe Terrestre, com reflexos no Orbe Universal, propiciando assim o início das atividades, com a sagração do Templo.
É, pois, o Mestre de Cerimônias o introdutor afável dos obreiros e visitantes, e tem por instrumento, em virtude do respeito e imponência do seu cargo, "um Cajado evocando a posição de um pastor e condutor de rebanhos", e como jóia uma Régua. Deve-se manter sempre atento à execução das ordens do Venerável Mestre, para que a liturgia se processe eficientemente, sendo, portanto, um verdadeiro diplomata que dispõe e livre circulação para o pleno exercício de suas funções.
Exerce o Mestre de Cerimônias salutares influências na movimentação de todo o Orbe Maçônico, vez que representa ele o planeta Mercúrio, o Deus veloz e astuto; circulando pelo Templo, como elemento de ligação, imita ele o planeta que mais rapidamente circula em torno do Sol.
Corresponde a Hermes - "Mercúrio dos Romanos", mensageiro dos deuses olímpicos, já que é o mensageiro dos dirigentes da Loja e, portanto, figura potencial do "Gênio" que demonstrará o mais perfeito e completo conhecimento do formalismo maçônico.
Coadjuvando o Mestre de Cerimônias, encontramos os Diáconos, elementos de ligação das Luzes, identificados como "Os Querubins", anjos da primeira hierarquia.
Em suas funções, estão eles revestidos por uma Pomba com asas abertas, emitindo a idéia de comunicação como base para bons entendimentos, indicando elas a natureza litúrgica da função destes oficiais da Loja. Na antiguidade, os pombos eram usados como mensageiros para longas distâncias, dada a inexistência de outros meios de comunicação.
Representam assim estes querubins os estafetas das principais luzes da oficina, encarregados que são de manterem a ordem nas Colunas, conduzindo a palavra, as pranchas e qualquer assunto ou documento reservado e de interesse da Ordem.
Mestre de Cerimônias e Diáconos, com suas jóias e ferramentas de trabalho - o bastão encimado pelas suas insígnias - demonstram o Cetro Patriarcal do gênio, com o perfeito e completo conhecimento do formalismo maçônico, somente adstrito aos mestres maçons.
Encontramos assim a segunda premissa, que nos leva ao entendimento de que somente revestidos de suas jóias e munidos de suas ferramentas é que estes oficiais ficam investidos nesta posição patriarcal de "gênio". Vejamos, pois, um pouco sobre as jóias e ferramentas para melhor entender a importância desta união de mestres, jóias e ferramentas de trabalho na formação do Pálio.
A pomba, jóia dos Diáconos, pode ser interpretada como uma das pombas enviadas por Noé; é o símbolo da conciliação com o GADU, mas também o símbolo da Paz, da simplicidade e da pureza que, encimando o bastão, conferem a qualidade de mensageiros. A jóia do segundo Diácono é uma pomba em vôo livre e a do primeiro uma pomba inscrita num triângulo com um ramo no bico.
A ferramenta de trabalho das “luzes menores", os Diáconos e Oficial Mestre de Cerimônias, são comuns e ocupam lugar de destaque em todas as cerimônias ritualísticas através dos tempos, portada por reis e autoridades como símbolo e insígnia de poder.
Na formação do Pálio estão presentes dois anjos da primeira hierarquia, os Querubins e mensageiros. O segundo Diácono é aquela pomba que, não voltando à origem, sacrificou a própria vida para manter a harmonia da coluna de sua responsabilidade; o primeiro Diácono representa a pomba que voltou de seu vôo com um ramo no bico, demonstrando domínio sobre um todo completo: água, fogo, ar e terra, domínio este que lhe advém do triângulo ao qual a pomba está circunscrita, mas, também, cooperando com a salvação daqueles que precisariam desembarcar em terra firme; unidos a estes querubins, ininterrupta e diuturnamente, encontra-se aquele que responde pelo infinito e pela moralidade, o Mestre de Cerimônia.
Pelas faculdades que lhe são peculiares, o Mestre de Cerimônia se dirige ao Oriente pelos degraus da Força, Trabalho, Ciência e Virtude, e de lá, como íntegro guardião, conduz àquele que mais do que nós, tem pleno domínio destas verdades, o PastMaster mais recente, que é, simbolicamente, o Sumo Sacerdote ou Abrão, o pai de todos os pais, para evocação do GADU, com a abertura do Livro da Lei, possibilitando a integração dos Orbes Terrestre e Celeste.
Postado o Past-Master à frente do Altar dos Juramentos, simbolizando o Altar dos Holocaustos do Templo de Jerusalém, em que o Sumo Sacerdote adentrava apenas uma vez por ano, na época das abluções e oferendas aos deuses em busca de paz e perdão, forma-se sobre sua cabeça, pelo levantamento e cruzamento dos bastões em suas extremidades, uma pirâmide triangular.
O bastão do Mestre de Cerimônias é a viga-mestra; sobre ele e à sua esquerda, na coluna do norte, o bastão do primeiro Diácono; à sua direita, na coluna do sul, o do segundo Diácono. Temos assim total cobertura ao "Sumo Sacerdote".
Simbolicamente, essa pirâmide triangular reporta-se ao Tabernáculo das Escrituras, que era de fato um templo portátil que continha dentro um lugar mais sagrado e secreto do que os outros, denominado Santo dos Santos ou Santo Sanctorum. A princípio e nos mesmos moldes do Tabernáculo, para a Maçonaria especulativa qualquer local poderia ser transformado em Loja Maçônica, bastando traçar no assoalho, dentro de um paralelogramo, com giz ou carvão os símbolos maçônicos. Mais tarde, serviram-se os irmãos de telas ou tapetes pintados, que eram estendidos no chão, precedendo ao início das reuniões, símbolos estes reproduzidos em nossos Templos, no painel da Loja.
Ao anunciar que a loja está composta e aguarda ordens, o Mestre de Cerimônia relembra o GADU concluindo a obra do mundo, nele criando os seres aptos para a formação da Pirâmide Triangular e para a abertura do Livro do Universo. Este é um ato litúrgico de suma relevância, realizado sob a égide do triângulo, que representa o deslocamento do Delta Luminoso para o Altar dos Juramentos e o Livro da Lei, representação do Olho da Providência.
Com a formação da Pirâmide Triangular e conseqüente abertura do Livro do Universo, aptos irão se encontrarem os maçons para a elevação ao Triângulo Luminoso, por intermédio da Escada de Jacó, composta pelos seus três lances que simbolizam a Fé, a Esperança e a Caridade, complementados pelos degraus da Virtude, da Temperança, da Prudência e da Justiça.
Em síntese, para a formação do Pálio necessário se faz o mais perfeito equilíbrio na harmonização e união dos conhecimentos do Mestre, unidos à agilidade do deus veloz e astuto e de seus querubins, objetivando serem reconhecidos como a figura patriarcal do "Gênio", pois somente assim estarão aptos à formação da Pirâmide Triangular.
O Sumo Sacerdote, aquele que já passou pela cadeira do Rei Salomão, tem como jóia um Esquadro sob o Compasso, num arco de círculo que possui ao centro o Sol e o Olho Onividente, ou mesmo um esquadro tendo suspenso em sua parte interna um emblema representando a 47ª Proposição de Euclides, significando que o ex-Venerável deve ser totalmente livre das paixões humanas para levar a luz aos seus irmãos através da sabedoria, com descortino e equilíbrio.
Formada a Pirâmide Triangular, o Sumo Sacerdote abre o Livro do Universo, recebendo assim a luz divina que dele emana, permanecendo sob as influências de um poder iluminativo, louvando o GADU com a leitura de uma passagem alusiva ao grau respectivo, reïterando todos os irmãos os seus juramentos pela saudação, como que pedindo perdão pelas possíveis faltas e erros cometidos, consagrando o Templo pela bateria que, agitando o ar, afasta tudo o que poderia ainda subsistir de profano.
Cria-se um novo ambiente para a devida aclamação da presença do GADU entre nós, "com a colocação do esquadro e do compasso sobre o livro da lei - olho da Providência, formando-se então, com base na Pirâmide Triangular, a escada de Jacó que nos levará à Estrela de Sete Pontas, que é a representação daqueles que atingiram a perfeição humana, comandados pelo Venerável Mestre, a quem cabe derramar do seu Trono a paz e a concórdia, em benefício dos irmãos e da Ordem Maçônica.

Fundado em 31 de maio de 2006 - ANO V
Rio de Janeiro – RJ – Brasil