A ÁRVORE DA VIDA E OS CARGOS SIMBÓLICOS EM LOJA Ir Ulf Jermann Mondl Os 10 cargos originais e fundamentais das Lojas maçônicas são idênticos e homólogos às “Sephiroth” da Árvore da Vida, que são formas elementares da emanação divina, visado através de seus ocupantes quando atuarem em Loja, bem como para todos os demais presentes aos trabalhos, tomar mais perceptíveis as verdades que estão encobertas atrás dos véus da iluminação divina (Ain-Ain soph - Ain Soph Aur), e serem abençoados pelas forças astrais invocadas. Uma perfeita compreensão pelo ocupante destes diversos cargos em Loja, com suas correspondentes “Sephiroth”, ajudará muito a seus titulares no desempenho perfeito de suas funções individuais e coletivas, contribuindo para o sucesso de uma Sessão Maçônica, com a obtenção das influências benéficas das forças astrais que invocamos em nossas reuniões, durante o desenrolar de nossa ritualística nas suas diversas etapas. Iniciemos no Oriente da Loja que corresponde ao Triângulo Supremo, ocupados pelo Venerável, pelo Secretário e pelo Orador, além dos antigos Mestres Instalados, que conhecem a palavra sagrada do simbolismo: 1. O Venerável corresponde à Sephirah Kether ou à Coroa, numerada com o algarismo "um" equivalendo a origem primordial, procurando simbolicamente a proximidade do som cósmico, ou seja, a do nome de Deus Eheieh - Eu sou o que sou, o Incognoscível, sendo sempre acompanhado do Arcanjo Metatron, o Anjo da Presença, buscando liderar a experiência espiritual da união com Deus, objetivando a realização de sua grande obra, que é, na Maçonaria, a construção do Edifício Social dentro e fora do Templo. Ao Venerável cabe dirigir com prudência e sabedoria as atividades da Loja dentro e fora do Templo. 2. O Secretário corresponde à Sephirah Chokmah, ou à Sabedoria, numerada com o algarismo "dois”, equivalendo à inteligência inspiradora ou ao Segundo Esplendor, simbolizando seu número o início da gênese universal, ou seja, um dos nomes de Deus, Jehovah, o Senhor, sendo sempre acompanhado pelo Arcanjo Taziel, o Arauto da Divindade, além do inicio do Tetragrama Sagrado com a sua letra “Yod”, buscando concentrar toda a sabedoria emanada de Deus. Sua pena deve buscar a inspiração para a máxima fidelidade e sacralidade dos registros, das atividades desenvolvidas em Loja, bem como para as outras comunicações que fizer. De sua função, derivou mais o cargo do Primeiro Diácono, que leva a Palavra Sagrada do Venerável para o Primeiro Vigilante, ao qual corresponde a Sephirah Hot, a Glória. 3. O Orador corresponde à Sephirah Bínah, ou à Compreensão, ou O Entendimento, numerada com o algarismo “três”, equivalendo à Justiça e ao Ensino da Verdade, simbolizando o seu número a vida formada e criada, ou seja, um dos nomes de Deus, Jehovah Elohin, o Deus dos Deuses, sendo sempre acompanhado do Arcanjo Aralim, o Observador de Deus, além da segunda letra do Tetragrama Sagrado com sua letra “Heh”, a janela da visão aberta à vida. Sua atuação visa as instruções e a aplicação da justiça mais perfeita dentro da Loja, pois é o Guarda da Lei e de sua pureza. Têm assento também no Oriente os outros Mestres Instalados, que já sentaram no Trono de Salomão, e sua proximidade visa reforçar, com sua energia pessoal, a atuação do Venerável, Secretário e Orador, secundados de seus respectivos anjos. Os cargos de Porta-Espada e Porta-Bandeira são funções honoríficas, porém simbolicamente meramente decorativas, enquanto o Primeiro Diácono é derivado do Secretário, o qual, antigamente, tinha também a função de mensageiro. Deste conjunto emana a Luz da Loja, que inspira e orienta suas atividades. Em Lojas novas, muitas vezes Aprendizes e Companheiros desempenham funções no Oriente, porém isso sempre deve ser a título precário, pois a rigor, no Oriente. devem ter apenas assento os Mestres Maçons. Continuando-se na fronteira do Oriente com o Ocidente, existe a região denominada Daath, ou o Conhecimento, um abismo na qual ocorre uma mudança da expressão da força para a forma, não sendo este abismo uma percepção objetiva. Nesta região, na realidade, encontra-se o segredo não revelado da Arvore da Vida, e muitas vezes, ao transitarmos por ela, não temos uma percepção de seu verdadeiro significado. Temos três posições ou cargos que fazem a perfeita transição para as Colunas do Norte e Sul, que são o Hospitaleiro, o Tesoureiro e o Mestre de Cerimônias. 4. O Hospitaleiro corresponde à Sephirah Chesed, ou à Misericórdia, numerada com o algarismo “quatro”, equivalendo à Bondade, ao Amor aos semelhantes, simbolizando o seu número a Inteligência Coesiva ou Receptiva advinda dos Poderes Sagrados emanados das virtudes espirituais, ou seja a um dos nomes de Deus, EI, o Deus Todo-Poderoso, sendo sempre seguido do Arcanjo Tzadkkiel, o Anjo do Deus Justo. Sua atuação visa o amparo e assistência aos Irmãos da Loja, lembrar sempre que o amor é uma das forças cósmicas fundamentais e que, necessariamente, este sentimento está associado à misericórdia, a qual sempre tem que estar presente aos trabalhos em Loja. 5. O Tesoureiro corresponde à Sephirah Geburah, ou à Força, numerada com o algarismo “cinco”, equivalendo à Vassoura Cósmica que extingue a desigualdade e elimina o supérfluo, simbolizando seu número a Severidade que emana de Chokmah, a Sabedoria, ou seja, um dos nomes de Deus, Elohin Gebor, o Deus da Severidade, sendo sempre seguido do Arcanjo Khamael, o Anjo da Severidade Divina. O simbolismo do cargo visa a seriedade que tem de haver com o trato dos valores da Loja, tanto na arrecadação como nos dispêndios dos metais, os quais devem servir essencial-mente à Misericórdia com os Irmãos e os Profanos, bem como a manutenção do Templo e nada mais, evitando-se os luxos e as dissipações advindas da vaidade e de outros defeitos da alma humana. 6. O Mestre de Cerimônias corresponde à Sephirah Tipharej, ou à Beleza, numerada com o algarismo “seis”, equivalendo à Luz que se transforma no Amor Radiante, simbolizando o número o equilíbrio que a Beleza confere à Sabedoria e à Força, as quais, isoladas, se antagonizam, mas juntas se completam, ou seja, um dos nomes de Deus, Aloah Va Daath, o Deus Forte do Entendimento, sendo sempre seguido do Arcanjo Rafael, o Anjo do Espírito que está no Sol, localizado na Coluna do Equilíbrio, situada sobre o Altar da Loja. Sua atuação visa essencialmente a perfeição e a beleza dos movimentos em Loja, pois ele é o elo de ligação entre o Ocidente e o Oriente, sendo que sua atuação é vital para a perfeição que deve haver nos trabalhos, resultando na beleza equilibradora. Os seis cargos iniciais formam geometricamente o Selo de Salomão da Loja, pois são o resultado da intersecção do Triângulo Supremo, formado pelas Sephiroth Kether-Chokmah-Binah, com o Triângulo Ético formado pelas Sephiroth Chesed-Geburah-Tiphareth, o elo entre o Ocidente e o Oriente. O Ocidente da Loja forma com os dois Vigilantes e o Experto o Triângulo Astral, formado pelas Sephirot Netzachj-Hod-Yesod, formando a ligação de seu vértice inferior com a posição correspondente à Sephirath Yesod, a porta para o Mundo Profano, guardada pelo Cobridor, simbolicamente o Guardião do Tesouro da Ciência Oculta ou dos Segredos da Maçonaria. Os Triângulos Supremo e Ético formam a parte espiritual e latente da Loja, enquanto o Triângulo Astral forma a parte potente e terrena da Loja. A região compreendida entre o Triângulo Astral e o Mestre de Cerimônias, corresponde simbolicamente à Terra e aos seus correspondentes elementos primordiais, ou seja, o Ar, a Terra, a Água e o Fogo. 7. O Segundo Vigilante corresponde à Sephírah Netzach, ou à Vitória, numerada com o algarismo “sete”. equivalente à Inteligência Oculta, simbolizando o Esplendor refulgente percebido pelos Olhos do Intelecto e pela. Contemplação da Fé, ou seja, um dos nomes de Deus, Jehovah Tzaboath, o Deus dos Exércitos, sendo seguido pelo Arcanjo Uriel, o Anjo Mensageiro da Graça de Deus. Sua atuação em Loja visa preparar os companheiros para a vitória advinda da elevação ao Mestrado, recebendo através do Mestre de Cerimônias as orientações gerais; do Segundo Diácono a Palavra Sagrada advinda do Venerável Mestre, por intermédio do Primeiro Vigilante até sua Coluna. 8. O Primeiro Vigilante corresponde à Sephirah Hod, ou à glória em Esplendor, numerada com o algarismo “oito”, equivalendo à Inteligência Absoluta ou Perfeita, simbolizando a Formação das Hierarquias Celestes, ou seja, no caso o mesmo nome de Deus em Netzach, o Jehovah Tzaboath, o Deus dos Exércitos, secundado, todavia, pelo Arcanjo Rafael, o Anjo Médico Celestial. Sua atuação em Loja consiste em receber os neófitos e assisti-los nas curas de suas enfermidades e defeitos espirituais, preparando-os para a Elevação a Companheiro, recebendo, através do Mestre de Cerimônias, as orientações gerais, do Primeiro Diácono a Palavra Sagrada advinda do Venerável Mestre até sua Coluna, bem como transmiti-la através do Segundo Diácono para sua Coluna. 9. O Experto corresponde à Sephirah Yesod, ou o Fundamento. numerada com o algarismo “nove”, equivalendo à Inteligência Purificada estabelecedora da Unidade, simbolizando o Tabernáculo Sagrado, ou seja, um dos nomes sagrados de Deus, Shadai El Chai, o Deus Vivo Todo-Poderoso, secundado pelo Arcanjo Gabriel, o Chefe das Hostes Celestes. Sua atuação consiste em conduzir as Iniciações no Ocidente, visando com seu trabalho gerar o equilíbrio perfeito com .o Venerável Mestre, que fica no Oriente, devendo sempre este cargo ser ocupado por um Mestre Instalado. 10. O Cobridor Externo corresponde à Sephírah Malkuth, ou o Reino, numerada com o algarismo “dez. equivalendo à Alma da Terra. através de suas múltiplas portas como a da Morte, a das Trevas da Morte. das Lágrimas, da Justiça, da Oração, da Filha dos Poderosos e a do Jardim do Éden, ou seja, um dos nomes sagrados de Deus, Adonai Malekh. ou Adonai Ha Aretz, o Senhor e Rei. secundado pelo Arcanjo Sandalphon, o Anjo Salvador (Messias). Sua atuação consiste em filtrar e impedir as influências do Mundo Profano sobre a Loja. verificar e admitir profanos às Iniciações, bem como manter a ordem interna quando necessário, devendo o cargo, ao contrário do que muitos pensam, ser ocupado por mestres muito experientes e com alto tirocínio político. Os Vigilantes também têm como função manter os Obreiros em ordem nas suas respectivas Colunas, além de trabalhar para o aperfeiçoamento dos seus correspondentes Aprendizes e Companheiros. Como Malkut não forma parte do Triângulo Astral, alguns acham erroneamente que o Cobridor não tem função definida, esquecendo-se que o Cobridor sempre tem que opinar em Loja quando houver envolvimentos com o mundo externo, pois sua função simbólica está na base da ÁRVORE DA VIDA, no meio das raízes da terra, dando sustento a toda árvore. Hoje, como nossos Templos estão a salvo de indiscrições profanas, normalmente esta função é desenvolvida pelo Guarda do Templo. O cargo de Segundo Diácono é um desdobramento do cargo de Primeiro Diácono no Ocidente, pois uma de suas principais funções é levar a Palavra Sagrada do Primeiro Vigilante, que a recebeu do Primeiro Diácono, para o Segundo Vigilante, sendo também o cargo de Chanceler, igualmente, um desdobramento do cargo de Secretário. As outras funções muito honoríficas como o Arquiteto, que têm que manter o Templo em condições de culto e o Mestre de Banquetes relacionam com aspectos exteriores da Loja e derivaram do Cobridor. O cargo de Mestre de Harmonia é uma função que desdobrou-se do Mestre de Cerimônias, pois tem relação intrínseca com a beleza dos trabalhos, devendo o ocupante deste cargo ter grande sensibilidade musical e mística, para com a execução de músicas adequadas durante os trabalhos, propiciar a harmonia necessária para o desenvolvimento da Egrégora e boa Harmonia da Loja. Embora hoje em dia não haja muita conscientização do simbolismo dos cargos em Loja, acreditamos que seja necessário um despertar para as realidades primordiais que originaram a razão de ser das Lojas Simbólicas e de seus verdadeiros objetivos, que são através de um trabalho coletivo chegar-se à Verdadeira Luz e cumprir na terra a grande obra do Grande Arquiteto do Universo, que é a construção do Edifício Social, quando atuarmos no mundo profano. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BALLOW, Robert. The Nature of Religion. Basic Book Publisher, New York, 1968. HOME, Alexander. King’s Salomon Temple in the Masonic Tradition. The Aquarian Press. Welligborough England, 1983. FOME, Dion. A Cabala Mística. Ed. Pensamento, São Paulo, 1993. WILLJAMS-HELLER, Ann. Cabala. Ed. Pensamento, São Paulo, 1990. BONDER, Nilton. A Cabala da Inveja. Ed. Imago, Rio de Janeiro, 1992. A BÍBLIA SAGRADA. Tradução de João Ricardo de Almeida. ALCORÃO SAGRADO. Tradução de Mansur El-Hayek. Ed. Tangará, São Paulo, 1979. BOUCHER, Jules. A Simbólica Maçônica. Ed. Pensamento, São Paulo, 1979. FIGUEIREDO, Joaquim Gervásio. Dicionário de Maçonaria. Ed. Pensamento, São Paulo, 1990. DA CAMINO, Rizzardo. Simbolismo do Primeiro Grau. RITUAIS DE APRENDIZ E MESTRE MAÇOM. GLSC, Ed. IOESC, Florianópolis.
O Portal Maçônico Orvalho do Hermon destina-se, exclusivamente, aos temas Maçônicos de relevância para os membros da Maçonaria Universal.
domingo, 1 de setembro de 2013
sábado, 10 de agosto de 2013
EX-VENERÁVEL, DONO DA LOJA!!!
É uma situação que ocorre com
frequência na Maçonaria brasileira e quiçá na mundial. O que vem a ser esta
situação? Simplesmente,
conforme o titulo do trabalho já sugere, é um Irmão que exerceu sua gestão como
venerável de uma loja e que seu desempenho pode ter sido muito bom ou muito
mau, mas seu mandato se esgotou, e ele esquecendo que já passou o seu momento
como principal gestor da loja e que deveria ficar quieto no seu canto, insiste
em se intrometer nos trabalhos da nova liderança quedemocraticamente surgiu na
sua loja através do voto.
Apegado ao poder, chega aos limites
da hipocrisia que como se sabe é o ato de fingir qualidades, ideias ou
sentimentos que em realidade ele não tem e isso às vezes se torna uma verdade
para ele ainda que falsa, um verdadeiro sofisma, e ele acreditando ser o que
sabe tudo, que sabe mais que os outros, em fim é o dono da verdade.
Ele não sabe se conter, não consegue
ficar sem dar palpites, ou dar ordens ao novo venerável, ou criticar o novo
líder, não somando as suas forças com as da nova gestão, pelo contrário,
atrapalhando-a. Se o novo venerável não for um líder pragmático, pulso forte,
que não saiba se impor, ficará a mercê do antecessor, não podendo exercer a sua
gestão a contento como planejou.
Todavia, numa loja democrática, não
faltarão Irmãos que com coerência e bom senso, tomarão partido do novo líder e
os mais habilidosos, chegam ao ex e com muito jeito, com parcimônia tentam
fazê-lo compreender a nova situação, o que às vezes não conseguem havendo até
em certos casos uma cisão na loja. Muitas novas lojas foram fundadas por ex-veneráveis
que não souberam respeitar a nova liderança. Este é um fato inconteste.
Este apego ao poder é algo que o
ex-venerável às vezes não pode se controlar, porque ele não estava preparado
quando exerceu seu mandato para um dia deixa-lo como soe acontece nos regimes
democráticos e uma loja maçônica não tem dono justamente por ser uma
democracia. Ele se achou venerável, e não entendeu que apenas estava venerável.
Acha que continua venerável.
Este tema abre um leque mais
profundo em relação a análise do poder nas lojas e como ele é manipulado.
Este tipo de dono da loja não é o
pior entrave para uma loja. O pior ex-venerável é aquele tipo de irmão
matreiro, político, de fala mansa, que sorri para todo mundo, abraça a todos
três vezes e que se derrete em falsos elogios aos Irmãos do quadro e procede
assim porque é uma das suas estratégias para se manter no poder eternamente.
Ele se vale de bonecos ou títeres para cobrir uma gestão que por imposições das
constituições das potências ele não pode se reeleger mais de uma ou duas vezes.
Em seguida ele volta gloriosamente na próxima. Mas durante a gestão de seu
preposto, quem dirigirá a loja de fato, será ele. Não de direito, mas de fato.
Ele tomará todas as decisões e o venerável de plantão cumprirá rigorosamente o
que o seu chefe determinar. Geralmente ele tem o seu grupo, formado por
comparsas que são coniventes que antecipadamente já decidiu quem será o
venerável para os próximos seis ou oito anos, mas sempre ele voltando após as
gestões de seus substitutos arranjados ou então apenas preferirá ser o chefe
por trás, nos bastidores, mandando em tudo e por muito tempo.
No fundo a sede de poder, nada mais
que uma autoafirmação, insegurança, incapacidade de ser transparente com seus
semelhantes e com o meio em que vive vaidoso mentiroso geralmente tendo uma
visão unilateral dos processos de interação entres os Irmãos, tornando sua
personalidade a de um verdadeiro psicopata social. Não sabe mais discernir os
seus limites. Não tem sentimentos. Chega a ser uma doença um desvio de
personalidade, e de comportamento.
Isto não é bazofia ou piada. Isto
realmente acontece na Maçonaria brasileira num índice maior do que se pode
imaginar, mas não como rotina. Infelizmente esta situação vem ocorrendo e
muitos irmãos fingem não vê-la ou senti-la, porque os membros das lojas com
exceção de verdadeiros maçons agem passivamente como cordeiros, esquecendo que
uma loja aberta em sessão é uma tribuna livre onde ideias são criadas, sonhos
são idealizados que podem mover o mundo, um verdadeiro laboratório social que
pode mudar tudo para melhor e por isso todos os problemas devem ser discutidos
e todos devem participar.
Uma situação esdrúxula aconteceu em
uma loja que será omitido o nome da cidade, onde isso ocorreu. Um Irmão desses
tipos de donos da sua loja, fez a sua loja votar o título de “venerável
perpétuo” para ele. Até aí, nada de mais, a loja votou, está votado. Mas ele
exigia que a loja só abrisse os trabalhos em suas sessões normais quando ele
estivesse presente. E ele atrasava sempre cerca cinco a dez minutos. E aí a
sessão começava. Isso é o cúmulo da hipocrisia, tanto deste sociopata
ex-venerável como da loja que aceitava tal situação.
Pasmem! Parece uma estória
inventada, mas não é. Isto é verídico!
Mas é bom que se frise que a maioria
dos ex-veneráveis não se enquadra nesta descrição. Existem ainda muitos bons
maçons na Ordem. Felizmente a maioria. São. Irmãos excelentes, preparados,
humildes, sabem qual é o seu lugar dentro de uma loja, bons conselheiros,
conhecem o peso de um malhete, porque já o manejaram quando foram veneráveis.
Aprenderam mais ouvir que falar.
A Maçonaria valoriza a Dialética,
que é a arte do dialogo, ou a discussão, como força de argumentação permite que
se contrariem ideias, que elas sejam discutidas em todos os sentidos e que
dessa situação nasça uma ideia concreta, inteligente, e perfeita, uma
verdadeira síntese de tudo o que foi tratado, desde que venha em favor da Ordem
e da humanidade. Ela prega a igualdade e a liberdade de pensamento entre seus
adeptos.
Esta situação de dono de loja é uma
das causas maiores do afastamento de muitos honrados irmãos da Ordem. Se um
irmão, sem medo, com coragem falar em nome da democracia e dos verdadeiros
princípios da Ordem, e isto ferir os desígnios destes déspotas, este será
marcado, perseguido e descriminado.
Considerando-se que temos cerca de
seis ou sete mil lojas no Brasil, imagine-se o número de Irmãos que agem desta
forma, considerando-se que a natureza humana é complexa e estranha, que muitos
homens possuem a síndrome do poder em função de seu DNA animalesco onde um quer
ser o dominante sobre o outro, ou sobre os outros.
Geralmente estas pessoas são
inseguras, não são felizes, não estão de bem com a vida e esta forma de querer
exercer um suposto poder sobre os outros é sua maneira de tentar equilibrar
seus próprios defeitos.
A síndrome do poder também chamada
de síndrome do pequeno poder é uma atitude de autoritarismo por parte de um
individuo que recebeu um poder e tenta usá-lo de forma absoluta e imperativa
sem se preocupar com os problemas dicotomizados que possam vir a ocasionar. A
síndrome do pequeno poder pode se tornar uma patologia, quando se torna
crônico. Existem aqueles Irmãos que mesmo longe do poder pensam que o possui.
Quando a realidade lhe é mostrada, entram em depressão. Mas a
Maçonaria prega justamente o contrário. Ela é democrática. Quando se fala em
vencer as paixões significa que o maçom deve fazer prevalecer em seu consciente
racional sobre as programações erradas de seu subconsciente, ou seja, sobre a
parte ruim que o ser humano tem dentro de si. Segundo São Francisco de Assis, é
o “burro” ou a “besta” que o ser humano carrega dentro de sua consciência. Uma
das condições mais exigidas pelos princípios maçônicos é justamente você fazer
prevalecer seu lado bom, vencendo o seu lado mau.
A condição para um irmão ser
venerável em primeiro lugar é que ele tenha merecimentos pessoais e que tenha
um conhecimento profundo da ciência maçônica em todos os seus segmentos, tais
como história da Ordem, ritualística, simbologia, administração, legislação e
justiça sendo tudo isso associado à sua capacidade de liderança.
Evidentemente a Maçonaria terá que
renovar seus líderes, para que novas ideias, novos postulados, novos rumos e
até novos paradigmas sejam estudados, adotados e postos em ação.
Todavia correrá o famoso risco: VOCÊ
QUER CONHECER UM MAÇOM? DÊ-LHE PODER.
Por fim, enfatiza-se que este
trabalho foi escrito para uma minoria de Irmãos, que são gananciosos do poder.
Ressalve-se aqueles Irmãos ex-veneráveis pessoas intocáveis que não se
enquadram neste contexto. Felizmente, a maioria. Estes são os sustentáculos da
Ordem.
COMENTÁRIO – O enunciado acima se
aplica, ainda, a tantos outros dirigentes maçônicos que, sem qualquer
escrúpulo, vêm fazendo da Ordem, pasmem!!! uma propriedade pessoal sua,
causando um descontentamento generalizado!!!
Autor: Hercule Spoladore –
Loja de Pesquisas Maçônicas
“Brasil”-
Londrina –PR.
sábado, 8 de junho de 2013
A MAÇONARIA DE HOJE
Quem, por acaso, quiser obter informações sobre o que é a maçonaria nos dias atuais não terá muita oportunidade de ver, ouvir ou ler senão pronunciamentos, comentários ou crônicas superficiais oriundas de maçons que se encontram, de certa forma, preocupados com o futuro da sua instituição. Dentre os ditos manifestos estão alguns que trazem em seus conteúdos sérias conclusões, dando conta de que a Ordem Maçônica está em declínio porque, embora tendo um passado de importantes lutas e de muitas glórias, enfrenta um presente sem afirmações, à espera de um futuro incerto. De alto custo financeiro para os seus membros, ela caminha para a sucumbência por não ter mais bandeiras de luta e também porque em nada evoluiu ao longo de toda a sua história. O que faz atualmente não passa de sessões monótonas, improdutivas e sem atrativos, com os seus dirigentes mais interessados em promover banquetes em ambientes suntuosos, onde o que mais se vê é a farta distribuição de diplomas e medalhas condecorativas, em vez de trabalharem no sentido de colocar a Ordem nos trilhos da sobrevivência e conduzi-la por rumos capazes de resgatarem a sua verdadeira identidade.
Há meses atrás tornou-se conhecido um extenso trabalho divulgado pela Internet, de autoria do valoroso irmão J.. L.. Cerqueira, membro da ARLS UNIÃO E SABEDORIA, da obediência da GRANDE LOJA, Oriente de Salvador-BA. De forma clara, bastanteexpressiva e franca, aquele sapiente irmão afirma que a maçonaria brasileira, entre outras circunstâncias, está morrendo porque não tem mais objetivos a alcançar como o fazia no passado.
Por tudo isso e muito mais, os convictos partícipes dessa linha de entendimento, afirmam: “O grau de evasão vem crescendo de ano para ano e, a continuar assim, a falência da maçonaria será inevitável se nada for feito.”
Extra oficialmente sabe-se que os índices de evasão de iniciados nas últimas décadas vêm se elevando e é fato inconteste que pode estar ocorrendo não só pela simples falta de uma bandeira de luta, ou pelo alto custo que se paga pela permanência no seio da maçonaria. O fenômeno vem se verificando em razão de uma série de fatores, dentre eles destacam-se também o desinteresse e a desmotivação. Além do mais, no que diz respeito aos processos de admissão adotados pela maçonaria, há um rigoroso critério de seleção onde os valores éticos e morais são o que mais pesa e o que mais representa na escolha e aprovação de seus candidatos. O fator qualidade é outra determinante sempre seguida, que perdura há séculos e que, em tempo algum, facilitou ou permitiu o inchaço de seus Templos. Mas, no dinamismo imprescindível da sua existência, sem o qual seria impossível qualquer evolução, é natural que o seu quadro de obreiros passe a cada mês por constantes alterações. Ela foi, é e sempre será renovação. Obviamente, devido a essa característica peculiar que deixa a maçonaria renovada a cada dia é que, para afirmar-se em que consiste a sua finalidade nos dias atuais, necessário se torna uma volta ao começo da sua história e, a partir de então, principiar a desvendar seus mistérios e descobrir que entre tantas afirmativas existem muitas divergências e polêmicas contradições. É preciso conhecer bem a sua origem, as causas que motivaram o seu surgimento, para que existe e só depois poder-se afirmar o que ela significa, na atualidade, para o mundo profano e também para nós, maçons, inclusive aqueles que a dirigem.
Não há quem discorde de que a maçonaria brasileira dos nossos dias se apresente mais tímida, mais retraída em relação àquela aguerrida e combativa instituição de outrora, de tantos enfrentamentos e muitas vitórias. No passado, suas constantes lutas em defesa dos direitos do povo, asseguraram-lhe prestígio e importância, nas na contramão de suas ações, deparou-se com inúmeros adversários, detratores e inimigos irreconciliáveis que se opuseram às suas aspirações, mas não conseguiram forças suficientes para detê-la. E assim, enfrentando e vencendo desafios de toda ordem, ela chegou a conquistas importantes que passaram a fazer parte da nossa própria história.
Hoje, depois de tantos anos já transcorridos, não é necessário muito esforço para se perceber o quanto a sociedade brasileira evoluiu. Nos três primeiros séculos após o descobrimento do Brasil, quase todos os fatos ligados ao relacionamento humano, que aconteceram e tiveram influência na transformação deste País, não têm mais para os nossos dias nenhuma aplicabilidade prática, nenhuma prevalência senão como valioso acervo que passou a fazer parte de um contexto histórico. Nem mesmo a maçonaria teria sido capaz de resistir a tantas mudanças sem se modificar. Consciente das mutações politicossociais que a nossa nação passou a sofrer, ela também tratou de evoluir. Teve que mudar as suas formas de luta, adaptando-as aos avanços da sociedade, das leis e da política, até chegar ao que vivemos na atualidade. Agora, os desafios que nos cercam são outros bem maiores e mais complexos, como por exemplo, a falta de infraestrutura dos serviços públicos colocados à disposição da população, a desigualdade social, a violência urbana, o narcotráfico, o tráfico de armas, as calamidades públicas etc. Tais desafios por suas dimensões e impetuosidade têm sido causa do surgimento das mais variadas espécies de crime, mal que se alastra no seio da sociedade brasileira, com requinte de violência cada vez maior, desafiando a lei, a justiça e o poder executivo em todas as suas esferas administrativas (federal, estadual, distrital e municipal).
Como se não bastasse, o território brasileiro passou a ser também alvo de repetidas calamidades públicas, provocadas por alterações climáticas desfavoráveis, cuja força descomunal tem deixado muita gente desamparada e até mesmo sem vida, como aconteceu há alguns meses atrás no Estado de Santa Catarina e agora, recentemente, no norte do País. Em ocasiões como estas a maçonaria dá prova de estar sempre presente com a sua solidariedade e até oferecendo ajuda material e financeira às pessoas atingidas, repetindo um gesto que há séculos se repete de modo peculiar e nato.
Desta feita, num balanço sucinto e comparativo entre o que construiu a maçonaria no passado e o que faz ela atualmente, dá para se chegar pelo menos a uma conclusão segura: a Arte Real, não só no Brasil, mas no mundo inteiro, mudou de tática e de estratégia de ação, porém, suas idéias e convicções permanecem como antes. Aqui, em nosso país, ela não possui mais em suas fileiras tantos vultos como os que teve no passado, mas continua atuante e operativa. Continua respeitada e presente em quase todos os momentos da vida nacional.
Em que pese amaçonaria brasileira aparentar-se para alguns maçons uma entidade quase morta, de outra forma, é ledo engano acreditar que ela esteja cumprindo o seu desiderato de maneira justa e perfeita. Às vezes, para que algo possa vir a ser notado torna-se imprescindível uma manifestação contrária a seu respeito. Um grito de alerta, uma crítica de cunho construtivo, em dado momento, talvez ressoem dentro das lojas maçônicas como o efeito de um salutar remédio capaz de contribuir para que omissões de nossa parte, que são freqüentes, deixem de ocorrer. Como é sabido, a omissão, o comodismo e o desânimo em que se coloca boa parcela dos maçons, são, hoje, um mal de elevadas proporções no seio da maçonaria que a impede de progredir e de alcançar seus mais nobres objetivos.
Diante de tantos problemas sociais próprios dos nossos dias, isto é, que não se assemelham aos do passado, todavia, bem mais numerosos, o conceito da maçonaria brasileira tem tudo para manter-se elevado ante os olhos do mundo profano se nós, maçons, continuarmos sendo os mentores e os verdadeiros articuladores dos ideais de mudança (característica que foi marcante em nossos irmãos do passado), relativamente a fatos cuja realidade não esteja correspondendo aos anseios da sociedade, principalmente, em áreas de atividades relevantes como as que aqui são lembradas, entre outras.
No campo da saúde pública, o sistema de atendimento é algo indigno do ser humano. A imprensa não cessa de denunciar acontecimentos lamentáveis que ocorrem quase todos os dias e que atingem só os mais pobres e necessitados, justamente quem não tem poder de ação para reagir e exigir o que lhe cabe por direito. È um sistema desestruturado e falho. Muitas pessoas que a ele recorrem, por não terem outra alternativa, depois de muita humilhação e constrangimentos, acabam morrendo sem alcançarem atendimento. Isto porque os recursos médicos são escassos, condições de trabalho precárias e medicamentos estão sempre em falta. Cirurgias, mesmo as denominadas de emergentes, não são realizadas a tempo de salvar vidas. E para justificar o caos reinante na saúde pública, seus responsáveis alegam sempre a mesma coisa: falta de recursos orçamentários. Há anos o povo vê a mesma cena se repetir. Mudam-se governantes, mudam-se autoridades públicas e nada muda no referido sistema. Não muda porque nessa história antiga há também um velho jogo de empurra que todos conhecem bem: A União afirma que faz as parte dela, os Estados culpam os Municípios e estes culpam os Estados. Dessa forma, ignorando seus maléficos efeitos, a roleta segue girando sem nenhuma perspectiva de melhora, sem ninguém fazer nada, sem ninguém cobrar. O descaso e a falta de vontade política parece que estão se perpetuando, enquanto que os princípios consagrados em nossa Constituição Federal continuam sendo flagrantemente desrespeitados, apesar de sua clareza: “A saúde é direito de todos e dever do Estado.” O acesso às ações e serviços a ela inerentes é universal e igualitário. Há anos nós, maçons, assistimos a tudo isso e ficamos em silêncio.
No campo dos delitos, embora não tão adequada para os dias atuais, temos uma legislação penal e processual que define os crimes, estabelece as respectivas penas, traça regras processuais, determina as formas de julgamento e a aplicação da pena cabível em cada caso. Por fim, temos ainda um outro instituto jurídico que é a chamada Lei de Execuções Penais. Questionável e discutível porque quando da sua elaboração esqueceu-se de quem erra tem sempre uma dívida a ser resgatada. Sua maior finalidade acabou sendo a devolução do condenado à liberdade o mais rápido possível. Hoje, um condenado a doze anos de reclusão, seja por que crime for, não ficará mais que dois anos na prisão se o seu comportamento for avaliado como bom. Tanto benefício assim torna a pena numa condenação quase nula. Ela perde o seu caráter punitivo e, consequentemente, perde também o poder coibitivo e intimidador que toda lei penal deve ter. Não se sabe por que, ao serem estabelecidos tantos benefícios a favor do réu preso, o legislador não tenha pensado em resguardar também os direitos da sociedade que é quem paga impostos e dá sustentação a todo o aparato estatal. Ele, do mesmo modo, não pensou em se colocar no lugar da vítima ou de seus familiares para poder avaliar melhor a intensidade da dor e dos danos irreparáveis que lhes podem ser causados. Pensou-se apenas no quanto custa para o Estado um longo período de prisão. Para resolver o problema das superlotações de modo prático, imediato e barato, não se pensou na construção de mais presídios. Foi mais fácil a opção pela diminuição do tempo da pena, até para os mais periculosos elementos, tendo-se como premissa as possibilidades de recuperação e de ressocialização do condenado preso como se isso fosse algo possível de se atingir dentro de qualquer presídio como os que temos aqui no Brasil. O resultado é que, grande parte dos que são beneficiados por essa lei volta a delinqüir. Para a sociedade, para o cidadão de bem, fica sempre a sensação de impunidade, de medo e de insegurança. No Brasil há cerca de quinhentos mil condenados presos. Nos Estados Unidos há dois milhões. Por que essa diferença tão grande entre duas nações cujos índices populacionais são mais ou menos iguais? Será que é porque aqui ocorrem menos crimes? Não! É porque os sistemas penal e prisional de lá são muito mais rígidos. Lá, quem erra age sabendo que não escapará das garras da justiça. Aqui, muitos crimes são cometidos porque a lei e a justiça não intimidam ninguém. Lá, é cobrada do condenado a efetiva reparação do dano causado, na medida justa, para não deixar que a sociedade sinta a horrível sensação de impunidade. Lá há mais presídios e menos benefícios. Aqui, as regras para acabar com a impunidade exigem mudanças, principalmente, na lei de execuções penais. Nós, maçons, estamos conscientes de que sem mudanças nada poderá melhorar, mas preferimos ficar em silêncio.
No campo dos tributos, nossa sociedade conta com um sistema arcaico, portanto, superado, demasiadamente oneroso e injusto o que, sem dúvida, são fatores que estimulam a prática da sonegação e da corrupção. Além do mais, impõe ao povo brasileiro uma das mais pesadas cargas tributárias do mundo.
Devido aos múltiplos interesses econômicos, financeiros e políticos ligados a essa questão, as disputas são acirradas em torno dela. No Congresso Nacional, sempre que se fala em reforma tributária, o clima se agita abrindo espaço para discussões que não se esgotam e, sem consenso, a matéria não segue adiante, nem vai a votação alguma. Em meio a esse conturbado jogo de interesse que parece ser sem solução, está a sociedade querendo mudanças, mas a necessária reforma tributária não sai. Nós, maçons, temos consciência de que um novo sistema tributário precisa ser aprovado, mas preferimos ficar em silêncio.
Por fim, o sistema de educação pública, aqui implantado, que vai do ensino fundamental ao superior. Em todo o território nacional, exceto no Distrito Federal, o sistema público de ensino fundamental (do 1º ao 9º ano) está a cargo dos municípios, com os Estados, atualmente compartilhando dessa responsabilidade do 6º ao 9º ano. Esse sistema, tanto na rede provada como na pública, é regido pela Lei de Diretrizes e Bases (LDB), um instrumento legal que surgiu tendo como motivação a reforma do ensino, a erradicação do analfabetismo, a inclusão social etc., mas que não correspondeu plenamente aos anseios da sociedade brasileira porque, na tentativa de alcança seus objetivos, quis inovar demais e tais inovações, no geral não estão dando certo. No “rank” mundial de qualidade de ensino, divulgado anualmente, o Brasil vem figurando, há alguns anos, entre as três piores nações em matéria de educação, numa relação de mais de cem países. Além do mais, veio também o Estatuto da Criança e do Adolescente que causou sério agravo às escolas públicas ao tirar delas, de forma ampla e irrestrita, a competência que lhes cabia para impor punições a alunos indisciplinados. Com isso, a escola e o professor de hoje não têm no que se basearem para fazer com que suas orientações sejam cumpridas.
Com a falta de autoridade dos educadores, com a ausência de poder coercitivo para impor e fazer cumprir pelo menos regras disciplinares básicas aumentaram nas escolas os atos de insubordinação, de desrespeito, de provocações, de ameaças e outros até mais graves que são frequentemente noticiados pela imprensa como, por exemplo, a venda e o consumo de drogas dentro do próprio estabelecimento escolar, agressões físicas de aluno contra aluno, de aluno contra professor, de aluno contra funcionário e, vez por outra, até homicídios, coisa que no passado ninguém imaginava que um dia pudesse acontecer.
A maçonaria precisa sair do silêncio e agir em defesa da camada mais pobre da população, pois é ela a maior usuária do sistema público de ensino e trabalhar no sentido de fazer com que a lei em questão seja modificada e, assim, serem eliminados seus pontos falhos. Uma de suas principais metas é a erradicação do analfabetismo e, para alcançar esse objetivo, o atual sistema de ensino chega ao absurdo de orientar as escolas a promoverem a qualquer custo o maior número possível de aprovações até mesmo daqueles alunos que não lograrem aproveitamento suficiente no final do ano letivo. E essa conduta faz com que a referida lei passe a ser o instrumento causador de um dano incalculável ao futuro da criança que passa de ano sem sabe4r, pois tira dela a oportunidade de se desenvolver intelectualmente e de competir pelo alcance de um “status” social mais elevado. Quando conclui o ciclo intermediário, o estudante oriundo de escola pública vai para a faculdade onde ingressa pelo sistema de cotas e depois de alguns anos, sai para o mercado de trabalho sem ter adquirido a aptidão necessária. Desta feita, a Lei de Diretrizes e Bases, que foi instituída tendo como objetivo promover também a inclusão social, o faz de modo errado gerando efeito contrário. Em um futuro não muito distante será ela a responsável pela baixa qualidade profissional de muita gente. Então, os riscos decorrentes de tudo isso, quem irá pagar será a própria sociedade se nada for mudado.
Por parte dos maçons, seria também uma utopia acreditar que as injustiças sociais, hoje em evidência, possam como se num toque de mágica, acabarem, de vez, um dia. Seria igualmente um grave equívoco acreditar que essas mesmas injustiças não venham a aumentar ainda mais ou acabarem espontaneamente, sem que para isso haja uma bandeira de luta como força propulsora direcionada no rumo daquilo que precisa ser mudado.
Nestes longos séculos já passados desde que o Brasil foi descoberto o mundo inteiro se transformou. E esse notável acontecimento nos trouxe uma qualidade de vida bem melhor. Graças às mudanças, a sociedade de hoje é outra e a maçonaria também. A Ordem Maçônica está muito diferente do que foi no passado e isso faz com que alguns maçons a entendam como uma instituição em decadência. Porém, de modo quase imperceptível, o que lhe ocorreu foi a imposição natural de uma necessidade absoluta. A maçonaria teve que se modificar para não morrer. Mudou suas estratégias de ação sem alterar seus princípios basilares e a sua doutrina. Foi sábia ao mudar os rumos do seu comportamento o que não a inviabilizou de continuar escrevendo a sua história, lutando sempre pela liberdade, pela igualdade e pela fraternidade entre os seres humanos. Com sua nova roupagem ela seguiu atraindo adeptos de todas as crenças religiosas. Deixou de colecionar inimigos, de ser perseguida, de ser obrigada a fechar suas portas e de ter que renascer das próprias cinzas como conta a sua história.
Até certo tempo não muito distante a maçonaria foi considerada pelos profanos uma instituição pactuada com o demônio, voltada à prática do mal. Em razão dessa falsa imagem ela chegou a ser fortemente discriminada, principalmente nos meios religiosos, mas hoje, o que se nota é que ela passou a ser compreendida e aceita da forma como realmente é, uma instituição cujo fim principal se constitui na prática desinteressada do bem.
Finalmente, há que se considerar também que a maçonaria ao ser vista e definida de forma bem simples e objetiva, como pessoa jurídica e instituição que é, nada mais representa senão aquilo que ela sempre foi, uma atuante escola de aperfeiçoamento moral, intelectual e espiritual do ser humano, ensinando-o a domar seus impulsos negativos e suas próprias paixões, sendo essência da sua razão de ser o preparo dos seus membros mediante a transmissão de ensinamentos ligados às suas idéias e aspirações, conforme recomendam seus seculares postulados e a sua doutrina universal.
É da inteligência e das mãos de todos os seus iniciados, de modo individual ou coletivo, que depende o êxito da maçonaria em qualquer parte do mundo. O que idealizarem, o que produzirem ou deixarem de fazer, será obra da própria Ordem Maçônica porque ela é o seu obreiro. Na realidade, ela, somos todos nós, maçons. Crônica de
ANESTOR PORFíRIO D SILVA - Mestre Instalado e Conselheiro do GOEG - Membro da ARLS Adelino Ferreira Machado - Oriente de Hidrolândia – GO
O Grupo Maçônico ORVALHO DO HERMON destina-se
aos debates de assuntos relevantes para a maçonaria universal
sexta-feira, 10 de maio de 2013
A LOJA MAÇÔNICA IDEAL
Trabalhamos em Loja com o objetivo definido da construção da Sociedade Humana.
Temos como alvo neste trabalho desenvolver comentários sobre o estudo da LOJA MAÇÔNICA – sua forma, seu interior, sua representação simbólica, sua sustentação, seu teto, piso, - para ampliar os conhecimentos administrados pela 5ª. (Quinta) e parte da 2ª (segunda) Instrução do Ritual do Aprendiz Maçom (1° Grau).
Chama-se Loja o local em que uma sociedade maçônica realiza suas Sessões e, por extensão, qualquer corporação maçônica (na realidade, prefere-se falar em Templo, para designar o local de reunião, que é LOJA, a corporação maçônica, quando os seus membros reúnem-se num Templo; ao final de uma Sessão, a Loja é considerada fechada ou “coberta”, mas o Templo continua aberto, inclusive para outras Lojas.
Loja provém de Ioga, que em sânscrito significa mundo ou o universo. Efetivamente o Templo Maçônico é uma reprodução, em ponto pequeno, do planeta, com sua abóboda azul, com seu sol, sua lua e suas constelações de astros que contam incessantemente a grandeza do Arquiteto incriado.
A universalidade da Instituição Maçônica, seu cosmopolitismo, sua moral e salutares princípios, eternamente belos como a criação, estão representados de maneira compreensível na Loja, cujos atributos e símbolos, falam sem cessar da alma humana, do idioma da razão, do dever e do cumprimento exato de sua missão sobre a terra. Só o ar livre, a luz do Sol que nos da vida entre as angústias tenebrosas da noite, pode representar o Templo Maçônico. Só em sítio consagrado a representar a majestade do infinito cabem perfeitamente os homens de boa vontade, agrupados para fazer sacrifícios de todo o gênero em prol de seus semelhantes.
É a Loja o retiro silencioso dos homens de boa vontade, o Templo augusto da caridade, onde se cultiva a fraternidade sinônima de amor sem condições, perdão sem restrições e da educação cívica, onde se congregam os espíritos honrados para elaborarem a redenção dos povos e o progresso da humanidade em todas as suas manifestações. Onde se afastam as lendas que nos ocultam a verdade, olvidam as preocupações, que se calam os receios, se perdoam os agravos, se consolam os muitos sofrimentos e se avivam as esperanças. Ali se caminha sem curvas, se dedica uma recordação a todo o grande, derrama-se uma lágrima por todo o prazer legítimo, envia-se um prêmio ou um aplauso a toda ação nobre. Neste lugar se trabalha buscando o pão da ciência, o prazer da caridade, o apoio desinteressado e o carinho fraternal. Também ali se conciliam desencontradas idéias, interesses opostos, contrárias crenças, suavizando as asperezas da vida com o bálsamo da temperança. Este lugar, portanto, não pode ser a casa do homem, a igreja de mera religião errônea, um cassino ou teatro, nada mesquinho. Ali está o mundo, laboratório permanente do bem, de meditação e de elevação espiritual. Daí a ausência do luxo. Tanto assim que seus Ornamentos, Paramentos e Jóias são simples. Porém ricos em significado e nas suas expressões.
A Loja é um centro de solidariedade, onde todos sofrem as aflições e comemoram o justo regozijo de cada um. A Loja é livre, que ajuda a libertar; é igual, onde todos realmente se igualam. O Pavimento Mosaico encerra uma grande lição. Nos ensina que não devemos olhar as “diversidades de cores e raças, o antagonismo das religiões e os princípios que regem os diferentes povos” e nos conclama a viver em perfeita fraternidade.
Na Loja se educam os caracteres, se aviva a inteligência e se cultiva o espírito, onde todos juntos aprendem a compreender os desígnios do Grande Arquiteto do Universo. É ela aonde vamos todas as semanas, ouvir idéias e ouvir críticas às nossas idéias em busca da paz da alma, onde cada Irmão chora quando quiser e sorri com os olhos, o coração franqueado à compreensão e à razão predispostas ao diálogo. Onde se pode divergir e, assim, convergir no mesmo ideal. É a escola misteriosa que conduz aos Céus, sem nuvem em toda a grandeza infinita. Ama-se a Loja porque ela é o símbolo da pátria. Ama-se a pátria porque ela é um pedaço desse todo harmonioso que se chama Humanidade.
Loja é o mundo. O Maçom é o homem em toda plenitude: a família, a honra, a ciência, a liberdade; todas as grandes concepções, todos os amores e todas as esperanças. Na Loja está Deus, que nos ensina a solidariedade mais pura e fraternal com os que praticam o bem e sofrem os espinhos da vida, a dar e não a pedir, sem justa necessidade.
Na Loja Maçônica ideal não prevalece apenas a vontade de alguns. A maioria respeita as convicções da minoria. Não é uma Loja de maçons perfeitos, pois esses são os que nunca erram, porque jamais acertam; nunca odeiam, porque jamais amam. Nela há erros e acertos, há equívocos, contradições e, até mesmo, ilusões. Cada Irmão perdoa os defeitos alheios, na mesma medida em que lhes são desculpados os próprios senões.
Todos a freqüentam pelo puro prazer de vir. Pode ser de pequenas dimensões, uma Oficina humilde, mas de grandes obras, onde um dia, possa fazer de meus filhos, de meus netos, meus Irmãos.
A Loja Regular não pode funcionar sem a presença, no mínimo, de sete irmãos. Uma Loja regular é aquela que, sendo justa e perfeita, obedece a uma Potência maçônica e que pratica, rigorosamente, todos os princípios básicos da Maçonaria. Sete é o número que simboliza a harmonia, a justiça e a prudência.
Além da forma, extensão e orientação próprias, ela deve conter ornamentos (pavimento de mosaico, estrela flamígera, borda dentilada), o Mobiliário (Volume da Ciência Sagrada, Esquadro e Compasso), e as Jóias que são:
a) – as fixas: a prancheta da Loja, a Pedra Bruta e a Pedra Polida;
b) - as móveis: o Esquadro, o Nível e o Prumo.
São necessários, no mínimo, sete Oficiais para se proceder a abertura dos trabalhos da Loja. Dizem os antigos rituais que três Maçons formam uma Loja simples; cinco, uma Loja justa, e sete, uma Loja perfeita, ou seja, para que uma Loja seja justa e perfeita, é preciso que três a governem, cinco a componham e sete a completem. Neste caso, os três da Loja simples são o Venerável e os dois Vigilantes; os cinco da Loja justa são os três precedentes e mais dois Mestres, e afinal uma Loja perfeita compreende mais um Companheiro e um Aprendiz. Só pode trabalhar a Loja que é “justa, perfeita e regular”. É justa se tem o Mobiliário devidamente colocado sobre o Altar; perfeita, se estão presentes sete ou mais membros, e regular, se possui a Carta Constitutiva outorgada por uma Potência regularmente investida de autoridade maçônica.
Oficinas azuis (ou simbólicas) são as Lojas que agrupam os Maçons do 1° ao 3° grau.
Loja-Mãe ou Mater. Loja onde um maçom recebeu sua Iniciação.
domingo, 14 de abril de 2013
O Perfil Maçônico
A través da história tem o homem manifestado uma tendência, que diríamos inata, de lutar e trabalhar em grupos, de se compor em organizações e formar associações, quer procurando a satisfação de seus anseios individuais, quer buscando alcançar suas metas grupais, a que isoladamente não poderia jamais chegar.
Houve, até, agrupamentos humanos, como os colégios funerários romanos, que visavam unicamente dar a seus membros, no final de suas vidas, um enterro e uma campa decentes.
Floresceram as guildas e corporações intensamente durante toda a Idade Média, estendendo?se quase até o final da Idade Moderna. Essas associações tinham o escopo principal de agregar os profissionais de uma determinada atividade, tanto para se protegerem mutuamente, como para tratar da defesa dos interesses gerais da classe.
Mais recentemente, os historiadores concluíram através de suas pesquisas que esses colégios, corporações ou guildas, além de sua finalidade material e ostensiva, também tinham entre seus membros ligações mais íntimas de caráter religioso, e que suas reuniões, de um modo geral, ser realizavam acobertadas pelo segredo e obedeciam a determinados rituais e esquemas rígidos de trabalho.
É inegável, porém, que todas tinham sempre o fato de um interesse comum ligado ao modo de vida dos associados, principalmente sob o aspecto profissional. Os rituais e senhas de reconhecimento eram unicamente um elemento de ligação entre os membros, mantendo não somente o grupo unido, mas também tornando as reuniões mais rigidamente ordenadas e produtivas.
Qualquer cidadão que quisesse pleitear seu ingresso deveria identificar-se com o grupo, e assumir o compromisso de trabalhar incansavelmente pelo bem comum. A identificação de interesses com os dos futuros companheiros era essencial, e cada candidato era rigorosamente submetido a uma sindicância prévia para analisar suas verdadeiras intenções e capacidades. Tentava-se evitar, a todo custo, que um iniciado viesse a prejudicar a harmonia do grupo. Por isso, cada associação estabelecia um perfil avaliativo do cidadão a ser iniciado, e somente quem a ele perfeitamente se adaptasse lograria ser aceito.
A definição desse perfil era considerada uma necessidade indispensável para que a organização pudesse seguir homogênea e ativa na luta por seus ideais. A fixação das características essenciais do candidato e sua exata definição não poderiam ser desprezados sob nenhuma forma sem o perigo de graves danos à comunidade.
Temos aí uma premissa básica a ser seguida se quisermos um grupo unido e coeso, capaz de atingir suas finalidades, grupais ou individuais. Não se pode permitir a existência de vozes contrárias e destoantes comprometedoras da boa ordem dos trabalhos. A história nos diz que as guildas, corporações e colégios seguiam rigorosamente esse estatuto, observância que lhes deu vida por mais de mil anos.
É muito natural, portanto, que a Maçonaria, como toda e qualquer sociedade que se proponha altas finalidades sociais, estabeleça um rígido perfil para enquadramento dos candidatos à iniciação, perfil esse que deve delinear com precisão as qualidades básicas mínimas e indispensáveis desejadas.
Já é nosso hábito dizer que somente damos ingresso a homens 1ivres e de bons costumes". Essas qualidades, contudo, nos parecem absolutamente vagas e imprecisas, por não serem capazes de definir a verdadeira personalidade de alguém.
É mister procurar com denodado empenho uma elaboração mais exata para o perfil das pessoas que queremos trazer para o nosso meio e engajar na luta pelos ideais maçônicos. Necessitamos, na realidade, de verdadeiros homens de iniciativa, com decisão de luta pelo bem comum de nossa sociedade, que possam efetivamente envolver-se com o nosso grupo, com disposição também de dedicar-se sem esmorecimento à elevação de seu nível cultural individual.
Ser "livre e de bons costumes" seria apenas um poluo de partida para analisar um candidato; porém em segundo lugar, mas não secundariamente, aquilatar outras qualidades imprescindíveis como disposição para o estudo sério, para a filantropia, para a luta pela solução de problemas sociais, disposição para lutar, enfim, por uma boa causa.
Em suma, queremos homens "livres e de bons costumes" sim, mas também culturalmente avançados, verdadeiros líderes sociais, intensamente dedicados à busca da perfeição não somente em si mesmo mas em toda a humanidade. É neste ponto que se origina a maior parte dos problemas internos de nossa Ordem.
É notoriamente difícil encontrar candidatos que se ajustem com perfeição a esse perfil, ainda mais porque essa exigência tolhe o desejo de muitas Lojas que querem a todo custo aumentar os seus quadros, como se isso representasse algum fato positivo em seus trabalhos.
Mas, analisemos mais pormenorizadamente as duas qualidades referidas inicialmente, e que sempre mencionamos em nossos trabalhos: "Livre e de bons costumes". Verificaremos que se prestam a interpretações ambíguas, pois têm um sentido demasiadamente amplo e indefinido.
O que é um homem livre?
Livre para ir e vir conforme assegura a Constituição Brasileira? Livre em contraposição a escravo? Livre de laços de juramento com outras associações similares? Livre das imposições do seu meio social? Livre de pressões de parentes e amigos? Livre de pensamento?
Seria, ainda, ser livre contar com a coragem suficiente para arrostar com a reprovação da sociedade para com todo aquele que tenha a ousadia de ser diferente, diferente apenas, do pensar da maioria?
Provavelmente naqueles primeiros tempos em que a Maçonaria Especulativa começou a substituir a antiga Maçonaria Operativa, quando as guildas de pedreiros vinham perdendo sua finalidade em virtude da vulgarização dos segredos de construção, a expressão "livre" era entendida em seu sentido literal, ou seja, livre da peia de ser escravo ou servo.
Evidentemente não é mais essa a conotação de liberdade que hoje referimos, eis que no oriente, no sentido estrito da palavra, não temos mais escravos, embora devamos admitir que uma família que receba apenas um salário mínimo esteja em piores condições do que um escravo, pois a este se garantiam a comida, a moradia e o vestuário.
O termo livre tem hoje uma interpretação muito mais nobre em nossas sindicâncias,, sendo definida em sentido mais de liberdade mental do que física. Entendemos como homem livre, ou deveríamos sempre entender, aquele com coragem suficiente e evidente capacidade de escolher livremente os seus passos, e determinar ele próprio os rumos de sua vida. Homem livre é um homem de iniciativa, dono de seu próprio destino, que ousa pensar sem imposição de limites para isso.
Mas, poderá um homem livre assim praticar alguma religião carregada de afirmações dogmáticas, e ser ao mesmo tempo um maçom convicto? Evidentemente que sim, desde que ele adote essa fé e seus dogmas como uma livre escolha sua, como urna conclusão de seu processo cognitivo, como um ponto de chegada de sua busca intelectual; desde que ele aceite esses dogmas como uma verdade plausível perante sua consciência.
Certa vez, em viagem, identifiquei-me junto a alguém que de antemão sabia ser maçom. Ele correspondeu, mas imediatamente esclareceu que abandonara nossos trabalhos porque seu pároco, ele era católico, lhe dissera que teria de optar entre Maçonaria e Igreja, pois as duas se excluíam mutuamente.
Evidentemente esse ex-Irmão não chegou a conhecer nossa Ordem, como não conhecia sua própria religião. Não era tampouco, seu procedimento o denunciava, um homem livre; tinha necessidade de alguém a pensar por ele. Possivelmente teria sido mais uma vítima da preocupação que algumas Lojas têm de aumentar os seus quadros. Uma sindicância um pouco mais rigorosa teria mostrado que ele não deveria ter sido iniciado.
Liberdade não é uma aparência externa do indivíduo, é antes uma condição interna que permite agir sem condicionamento e sem constrangimento, sem limitações impostas por outrem. Liberdade é uma posição conscientemente assumida, tolerada apenas a limitação da própria capacidade intelectual. Essa posição não será revelada pelo comportamento visível de um candidato, somente o seu passado o revelará.
Mas, há um segundo quesito' que costumamos exigir dos que desejam a Iniciação: ser um homem de bons costumes. Esta é uma expressão muito mais ambígua ainda. Tentemos defini?Ia e veremos quantas dificuldades se nos depararão. "De bons costumes" é popularmente considerado aquele hábito que leva o cidadão a proceder de acordo com a maioria de seu meio social, a seguir os usos gerais de procedimento adotados como corretos pelo grupo dominante.
Conheço homens que são considerados "de bons costumes" apenas porque publicamente se comportam segundo um padrão preestabelecido. Não têm títulos protestados, são pontuais no pagamento de suas dívidas, têm ficha policial sempre limpa, mantêm oficialmente um lar com esposa e filhos, em suma, na aparência externa, nada se provará contra eles, e uma sindicância superficial não os condenará. Mas no seu foro íntimo, são verdadeiros tiranos com seus inferiores e seus familiares, fazem quaisquer negócios escusos quando podem esconder a mão, aceitam e dão propinas e subornos; são cidadãos que pensam exclusivamente em seu próprio bem-estar e posição social.
Não se pode naturalmente definir um homem por suas aparências sociais. Ser realmente livre e de bons costumes são facetas muito íntimas de foro interno de cada um, que não podem ser aquilatadas por uma mera e superficial análise externa, muitas vezes eivada de considerações e influências pessoais.
Há que se recorrer a outros meios que não esses prismas para analisar corretamente o perfil moral de um homem. O seu passado deve ser percorrido. Como disse muito sabiamente o escritor grego Políbio, não é o presente que define um homem, mas sim os atos e fitos de sua vida pregressa.
Percorramos a estrada da vida de nossos candidatos. Procuremos ver o que eles já fizeram pelos seus semelhantes, se eles têm efetivamente participado de atividades sociais, se já têm voluntariamente assumido trabalhos comunitários, se têm demonstrado espírito de iniciativa.
Se um homem já se aproxima da metade de sua vida e nunca participou ativamente da solução dos problemas de sua comunidade, se é adepto de uma religião e se limitou a assistir passivamente aos cultos em ocasiões obrigatórias, se em matéria de cultura nunca foi além da leitura superficial de jornais e revistas, poderemos afirmar com certeza que é assim que ele será em nossas Lojas. Jamais nossa Ordem poderá contar com ele. Não é por entrar para a Maçonaria que alguém se tornará homem atuante do dia para a noite, ou virá a ser um homem interessado em seu desenvolvimento pessoal. Jamais será um verdadeiro Maçom.
Não poderemos aceitar como digno de Iniciação alguém que de positivo apresente apenas a característica de ser um bom cidadão, ou que seja considerado de bons costumes por não ter feito mal a ninguém. Essa máquina com que datilografo estas linhas também pode ser considerada boa porque não faz mal a ninguém; ela é exatamente como aquele cidadão, apenas bom, mas que para produzir algo proveitoso deve ser permanentemente manejado.
Ao acolhermos a apresentação de novos candidatos, deveremos fazer prevalecer sempre o bom senso e a responsabilidade, tanto dos apresentantes como dos sindicantes, do corpo da Loja, da Administração Central do Grande Oriente. A análise dos dados apresentados deve ser profunda e cuidadosa. O passado do apresentado deve ser a base de uma pesquisa muito ampla e conscienciosa.
As liberalidades para com amigos e pessoas por ocuparem cargos de destaque têm permitido que entrem para nossa Ordem muitos candidatos que nada mais são do que simplesmente livres (não escravos) e de bons costumes (apenas bons cidadãos), mas cujo passado nada mais mostra do que um caminho deserto sem nada de positivo a ser anotado.
A condescendência, as liberalidades, os precedentes são o grande mal que afligem o funcionamento de muitas associações, e principalmente não poucas de nossas Lojas.
Como são raros os candidatos que poderiam se enquadrar no perfil de perfeição que tentamos delinear, e como muitas Lojas deixam entrever um desusado interesse em ampliar o quadro de seus obreiros, possivelmente para encobrir a falta de outras iniciativas mais substanciosas, verifica?se um apressamento dos cerimoniais de Iniciação. Freqüentemente, por isso, são iniciadas pessoas que nada trarão para nossa Instituição, muito ao contrário, sua inércia será muito prejudicial e contagiante.
E a observância do perfil rigoroso antes estabelecido vai se abrandando. As considerações de amizade e uma indisfarçada admiração por quem ocupa cargos públicos importantes, forçam um relaxamento do processo de seleção. De concessão em concessão se inicia uma reação em cadeia.
Os mesmos que foram iniciados em virtude de uma sindicância facilitada, quando por sua vez apresentarem os seus candidatos usarão um perfil ainda mais diluído. O nível geral da Ordem, como estamos assistindo nesse momento histórico, vai decaindo, não no sentido moral evidentemente, mas pela ausência de homens dinâmicos com quem a Maçonaria necessita contar para poder atingir os seus altos objetivos. A própria freqüência aos trabalhos, por vezes muito aquém do desejado, é um atestado desse fenômeno.
Embora devamos admitir que a condescendência se tomou quase universal, afetando em todo mundo as associações de qualquer natureza, ela não deveria existir na Maçonaria, dada a seriedade com que costumamos encarar nossos trabalhos. Essa reação em cadeia também vem nos atingindo, levando para baixo o nível de nossa eficiência, tão decantada em outros tempos.
Nossa atenção a esse fato social deverá ser dobrada, agora, para que não deixemos chegar esse nível a um patamar perigoso, pois a experiência evidencia que quando isso ocorre a própria existência da associação se vê ameaçada. Muitos membros de nível cultural mais elevado poderão se afastar silenciosamente por não encontrarem guarida para seus esforços pela dinamização da luta por ideais que tanto apregoamos serem nossos.
Qualquer associação que se permita cair no conceito de seus próprios membros está chegando a um limiar indesejável e perigoso para a sua própria sobrevivência.
Nossa Ordem nunca poderá ser maior ou melhor do que o forem os Irmãos que a constituem. Nem se aceitará aquela observação de alguns pusilânimes que dizem querer deixar a Instituição porque não encontraram nela o que procuravam, pois habitualmente nada fizeram ou fazem para modificar a situação. A Maçonaria será tão grande e boa quanto nós, os Irmãos, se formos grandes e bons individualmente.
Esses que assim pensam são exatamente aqueles que em sua vida pregressa nada fizeram de grandioso e meritório, e entraram na Maçonaria pensando que ela faria isso por eles; pretendiam apenas engrandecer-se às custas dos Irmãos.
Cuidemos para que não entrem para o nosso grupo aqueles que Cristo já rejeitou como nem frios nem quentes: os medíocres.
Os pusilânimes não fazem história, são apenas levados de roldão. Percorramos a trilha da história da humanidade e veremos que ficaram apenas os nomes dos que foram ou muito bons ou muito maus. Procuremos ficar na evidência por termos sido muito bons, muito grandes em nossa luta por uma vida melhor, por uma MAÇONARIA GRANDE E UNIDA.
Grupo Maçônico ORVALHO DO HERMON
Vitrúvio - o Microcosmo e o Gnómon
1 - O Templo
Até ao advento do cristianismo, a construção de templos aos deuses no mundo greco-romano obedecia a cânones arquitecturais precisos, que só vieram a ser expostos por escrito por Vitrúvio no século I a.C. na sua obra monumental “De Architectura”. Deste extenso tratado de Vitrúvio, expomos em seguida os quatro primeiros artigos do capítulo terceiro, que expõem sucintamente esses cânones para a construção de templos (1):
«A planta dos Templos depende da Simetria, cujas regras devem ser cuidadosamente observadas pelos Arquitectos. A Simetria nasce da proporção, que os gregos chamam ἀναλογία. A Proporção é a devida regulação das dimensões das diferentes partes, entre si e com o conjunto; da harmonia desta regulação depende a Simetria. Assim, de nenhum edifício se poderá dizer que foi bem desenhado, se não atendermos à sua simetria e proporções. Em verdade, elas são necessárias para a beleza do edifício, assim como para uma bem proporcionada figura humana» (Capítulo III, 1).
«O que a natureza estabeleceu é que, na cara, desde o queixo até o alto da testa, ou das raízes do cabelo, correspondem a uma décima parte da altura do corpo todo. Desde o queixo para a coroa da cabeça é uma oitava parte de toda a altura e, a partir da nuca do pescoço à coroa da cabeça, o mesmo. Desde a parte superior do peito às raízes do cabelo um sexto; à coroa da cabeça, um quarto. A terça parte da altura da face é igual à distância compreendida à que medeia entre o queixo e a parte inferior das narinas, outro terço até ao meio das sobrancelhas; e daqui às raízes do cabelo, onde termina a testa, o terceira parte restante. O comprimento do pé é uma sexta parte da altura do corpo. O antebraço, uma quarta parte. A largura do peito uma quarta parte. Da mesma forma os seus membros têm outras devidas proporções, em respeito às quais, os antigos Pintores e escultores granjearam tanta reputação» (Capítulo III, 2).
«Assim, as partes dos Templos devem corresponder entre si, e com o todo. O umbigo é, naturalmente, colocado no centro do corpo humano e, no caso de um homem deitado com o rosto para cima, e as mãos e os pés estendidos, e tendo o seu umbigo como centro, um círculo será descrito, que tocará os seus dedos das mãos e dos pés. Não é só por um círculo que o corpo humano é circunscrito, como pode ser visto se o figurarmos dentro de um quadrado. Medindo desde os pés à coroa da cabeça e, em seguida, à largura dos braços bem estendidos, constatamos que estas medidas são iguais às anteriores; de modo que duas linhas com ângulos rectos entre si, encerrando a figura, formarão um quadrado» (Capítulo III, 3).
«Se a Natureza constituiu o corpo humano de forma que os diferentes membros do mesmo são medidas do conjunto, assim, os antigos, com grande propriedade, determinaram o mesmo na perfeição das suas obras, cada parte deve ser uma parte alíquota do todo; e desde que o estabeleceram, tem vindo a ser observado em todas as suas obras, e de forma mais rigorosa, nos templos dos deuses, onde as suas falhas, tal como as suas belezas, permanecerão até ao fim dos tempos» (Capítulo III, 4).
O ideal greco-romano para a construção de templos cumpre assim um denso esoterismo: o homem é a medida de todas as coisas (Protágoras), e as suas proporções geométricas certificam que o Homem Individual (Microcosmo) presente na arquitectura sagrada é uma projecção do Homem Cósmico (Macrocosmo), divino e perfeito. O templo, tendo o Homem como modelo, enfatizava a sua função de ponte entre o indivíduo e as potências cósmicas.
A forma rectangular dos templos gregos e romanos, representava assim o corpo do homem e, por analogia, os céus. O rectângulo é uma extensão geometricamente proporcional do quadrado (2), e o quadrado ou quaternário, a expressão mais pura do espaço e do tempo: quatro regiões, Idades do homem, Eras do Mundo, estações do ano, fases da lua, etc.
O Homo Quadratus encarnado na arquitectura sagrada, é um símbolo pleno de significado. O seu centro assinala o ponto axial do mundo (o umbigo), uma cruz desenhada no interior do quadrado, e a divisão dos quatro quadrados resultantes em oito triângulos, resultam no seccionamento do quadrado em oito linhas que divergem do seu centro, e que apontam para os pontos cardeais e para os quatro cantos do mundo – divisão óctupla do espaço sagrado.
Assinalemos que o templo em forma de quadrilátero e a valorização religiosa das formas e volumes geométricos, não é uma criação dos gregos, mas que estes prolongam uma tradição milenar perpetuada nas margens do Nilo, onde podem ser encontradas as raízes do orfismo, e onde Pitágoras e Platão foram instruídos por sacerdotes egípcios.
Para a escola de Pitágoras, o quaternário era a origem da natureza divina e a raiz da tétractis (1+2+3+4), de cuja soma resultava o 10, a Década, o Número da Perfeição, e unindo com um traço a cabeça e os membros do Homem de Vitrúvio, obtém-se o Pentagrama, que era para a escola de Pitágoras, o símbolo do homem enquanto microcosmo, síntese do homem e do cosmos (número nupcial, matrimónio do número dois, masculino, e do número três, púbico e feminino). A geometria religiosa dos pitagóricos escalonava assim os números da tétractis: o um era a origem, a fonte da divindade e de todos os números; dois, o desdobramento do um, fonte da dualidade criadora; três, o universo vertical, céu, terra e inferno; quatro a justiça, a estabilidade; cinco o número nupcial; dez a perfeição absoluta. Ou, numa perspectiva espacial, um é o ponto (o ponto axial, do círculo ou do quadrado), dois, a linha, três a superfície, quatro, o volume (3). Todos estes números, mais o seis, o Número da Inteligência, repetem-se nas proporções acima transcritas da tratadística de Vitrúvio, e o seu Homem inscrito num quadrado (homo ad quadratum) interior a um círculo (homo ad circulum), não deixa de evocar a cosmologia pitagórica (4).
Continuemos com Vitrúvio:
«Os antigos consideravam o dez, um número perfeito, porque os dedos são dez em número, e o palmo deriva dele, e do palmo deriva o pé. Platão, atendendo a isso, chamou ao dez, um número perfeito; a Natureza formou as mãos com dez dedos, e também porque o dez é composto por unidades chamadas μονάδες em Grego» (III, 1).
2 – A Cidade Ideal
Para Vitrúvio, a planificação de uma cidade requeria tantos cuidados como a construção de um templo, e dedica grande parte da sua dissertação à disposição da cidade em função dos oito ventos.
«Com uma laje de mármore cria-se um nível fixo no espaço encerrado pelas muralhas, ou faz-se com que o terreno seja aplainado e nivelado de modo que a laje de mármore não seja necessária. No centro deste terreno plano, com o propósito de marcar correctamente a sombra, deve ser erigido um gnómon metálico. Os Gregos chamam a este gnómon cσκιαθήρας. Por volta da quinta hora da manhã, deve ser determinada a extremidade da sombra projectada pelo gnómon, e marcada com um ponto. Do ponto central do terreno, onde o gnómon está fixo ao solo, como um centro, descrever um círculo a partir do ponto assinalado pela extremidade da sombra. Depois do Sol ter passado o meridiano, observar a sombra que o gnómon continua a produzir até ao momento em que a sua extremidade toque novamente no círculo já traçado (5).
«A partir dos dois pontos obtidos na circunferência do círculo, descrever dois arcos interseccionantes entre si, e através da sua intersecção e do círculo inicialmente descrito, traçar uma linha até à sua extremidade – e obtém-se o diâmetro que deve separar os quartos do norte e do sul. A décima sexta parte da circunferência do círculo completo será medida para a direita e para a esquerda dos pontos norte e sul, e desenhadas linhas dos pontos obtidos para o centro do círculo, temos uma oitava parte da circunferência para a região norte e outra oitava parte para a região do sul. Divide-se o que resta da circunferência em cada lado em três partes iguais, e obtemos a divisão das regiões dos oito ventos, então projectar as direcções das ruas em função das linhas que separam as diferentes regiões dos ventos» (Capítulo I, 6, 7).
Vitrúvio descreve a planificação de uma cidade como era tradição no mundo antigo, mas acrescenta-lhe uma dimensão teórica, ideal, não cumprida até então: a cidade deveria não só ser orientada nas oito direcções (pontos cardeais e cantos do mundo), mas ter além disso, a forma de um octógono, a sua forma perfeita, com cada uma das faces voltada para um dos oito ventos dos geógrafos gregos e latinos: Setêntrio (norte), Áquilo, (nordeste), Solanus (Este), Eurus (sudeste), Auster (sul), Africus (sudoeste), Favonius (Oeste) e Corus (Noroeste).
O centro da cidade de Atenas, o seu umbigo, era uma torre com a forma octogonal, a torre dos Ventos de Andronicus Cirrestes, profusamente descrita por Vitrúvio, com faces no término dos oito raios do compasso, cada uma delas decorada com uma alegoria do vento que enfrentava (7).
Esta insistência de Vitrúvio nos oito ventos, dissimula um sentido esotérico subjacente.
Tudo começa com a “escolha” de um centro (o umbigo do microcosmo), muitas vezes, decerto, com rituais divinatórios para auscultar a vontade dos deuses ou perpetuando um lugar sagrado pré-existente. Nesse centro ergue-se o gnómon, que é a unidade sagrada, o ponto de irrupção de divino, eixo que unirá os três mundos na vertical.
A parir do gnómon traça-se o círculo, que delimita a fronteira do espaço cósmico, e desse círculo solar se obterá, com dois círculos interseccionantes, os quatro ângulos do quadrado interno que pode ser esquartelado pela cruz que aponta os pontos cardeais. Círculo, quadrado, cruz, que produzem o octógono, expressão da união da terra (o Quadrado) e do Céu (o círculo). Á divisão óctupla do espaço podemos acrescentar a divisão em oito do dia e do ano que eram praticados na Europa e Mediterrâneo e que persistiu na roda celta das oito festividades anuais. Para os pitagóricos, o oito seria considerado o Número da Igualdade, porque colocava no mesmo plano o mundo terrestre e o mundo celeste, os deuses e os homens (8).
Encontrei um texto de Réne Guenon, no qual ele reforça a ideia de que na arquitectura religiosa, ao quadrado corresponderia o edifício quadrangular em si, enquanto a esfera presidia a construção da abóbada do templo. Ainda que seja um anacronismo falar de abóbadas para o mundo grego, a sua explanação sobre o esoterismo do octógono merece ser seguida:
«As formas quadradas ou cúbicas referem-se à terra, e as formas circulares ou esféricas ao céu; o significado destas duas partes resulta imediatamente disto, e acrescentemos que a terra e o céu não designam aí, apenas, os dois pólos entre os quais se produz toda a manifestação, como ocorre particularmente com a Grande Tríade extremo-oriental, mas que correspondem igualmente, como no Tribhúvana hindú, aos aspectos dessa mesma manifestação que estão mais próximos, respectivamente, dos ditos pólos e que, por essa razão, se designam por mundo terrestre e mundo celeste. Há um ponto sobre o qual tivemos oportunidade de insistir anteriormente, mas que merece ser tomado em consideração: enquanto o edifício representa a realização de um "modelo cósmico", o conjunto da sua estrutura, se a reduzirmos exclusivamente a essas duas partes, seria incompleto no sentido de que, na sobreposição dos "três mundos", faltaria um elemento correspondente ao "mundo intermédio". De facto, esse elemento existe também, pois o domo ou abóbada não pode assentar directamente sobre a base quadrada, e para permitir a passagem de uma forma à outra é necessária uma forma de transição que seja, de certo modo, intermédia entre o quadrado e o círculo, forma que é, geralmente, a do octógono.
«(...) Na construção, a forma do octógono pode realizar-se, naturalmente, de maneiras diferentes, e especialmente, por meio de oito pilares que suportam a abóbada; encontramos um exemplo na China, no caso do Ming-Tang (...), cujo "tecto redondo está suportado por oito colunas que repousam sobre uma base quadrada, com a terra, pois, para realizar esta quadratura do círculo, que vai da unidade celeste da abóbada ao quadrado dos elementos terrestres, é necessário passar pelo octógono, que se encontra em relação com o mundo intermédio das oito direcções, da oito portas e dos oito ventos" (Luc Bennoist, "Art du Monde", p. 90). O simbolismo das "oito portas", que se menciona também nesta passagem, explica-se pelo facto de que a porta é essencialmente um lugar de passagem e representa, como tal, a transição de um estado a outro, especialmente, de um estado "exterior" a outro "interior", pelo menos relativamente, porque essa relação do "exterior" e do "interior" é sempre comparável, em qualquer nível que se situe, à do mundo terrestre e o mundo celeste».
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Ŋotas:
(1) Servimo-nos da edição online da obra, em língua inglesa, do portal LacusCurtius de autores gregos e romanos
(2) ”O sistema da proporção definida que os gregos empregavam no desenho dos seus templos foi outra causa do efeito que eles produzem sobre as mentes incultas. Para eles não só a altura deveria ser igual à largura, ou comprimento duas vezes a largura - mas toda e qualquer parte devia ser proporcional a todas as partes com que ela se relacionava, em alguma razão tal como 1 para 6, 2 para 7, 3 para 8, 4 para 9, ou 5 para 10, etc. A medida que o esquema avança, esses números tornam-se consideravelmente altos. Nesse caso, eles revertem para alguma razão simples, tal como 4 para 5, 5 para 6, 6 para 7, e assim por diante” (James Ferguson, citado por Nigel Pennick, v. Fontes).
(3) Adaptado da tese “Números para Pitágoras” de Christian Quintana Pinedo.
(4) «Alexandre, no seu “A Herança dos Filósofos” diz ter achado também nos escritos pitagóricos as coisas seguintes: O princípio de todas as coisas é a unidade, e desta procede a dualidade, que é indefinida e depende, como matéria, da unidade que a origina. Assim, a numeração provém da unidade e da dualidade indefinida. Dos números provém os pontos, destes as linhas; das linhas, as figuras planas; e das figuras planas, os sólidos; e destes os corpos sólidos, os quais se compõem de quatro elementos, fogo, água, terra e ar, estes quatro elementos combinam-se entre si e transformam-se completamente uns nos outros, e delas se engendra o universo animado, inteligente, esférico, que tem a terra como seu centro, e a terra também é esférica e habitada no seu interior. Também há antípodas, e o nosso abaixo é o seu acima» (Diógenes Laércio, “Vidas, opiniones y sentencias de los filósofos más ilustres ”, tomo II, Livro VIII – o negrito é meu)
(5) Dito doutro modo, a distância máxima da sombra do gnómon de manhã e à tarde, fornece os pontos cardeais leste e oeste.
(6) «Por isso, Deus tornou o Todo em forma esférica e circular, sendo todas as distâncias iguais, do centro à extremidade. É esta, de todas as figuras, a mais perfeita e a mais completamente semelhante a si mesma» (Platão, "Timeu", 33).
(7) Não nos parece que a torre seja uma mera Rosa dos Ventos, mas um centro, um eixo, construído e respeitado como símbolo do equilíbrio cósmico.
(8) «O octógono resulta da união entre o quadrado da terra e do quadrado do céu, simbolizando a comunicação entre ambos», escreve Paulo Alexandre Loução no quinto capítulo de "Os Templários na Formação de Portugal" (Ésquilo, 2001), capítulo que abre com uma citação de Pitágoras: «O número oito, ou a octóada, é o primeiro cubo, vale dizer, quadrado em todos os sentidos, como um dado, que precede de sua base, o dois, ou de qualquer número; assim, o homem é quadrado ou perfeito".
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