Grupo Maçônico Orvalho do Hermon
Como dissemos, falando de Moisés, Jesus não veio destruir a Lei primitivamente estabelecida; veio cumpri-la, torna-la perfeita, dando-lhe esta leveza e esta vida, sem as quais nada é perfeito, nada é completamente humano. Mas ele trouxe ao mundo judeu, tal como Moisés havia criado, uma idéia inteiramente nova, que se relacionava, contudo, à primitiva concepção de Moisés.
O que sobreveio à Lei mosaica é um fato inerente à natureza humana. É preciso, para a multidão, que um ensinamento se prenda a uma forma. Ora, a Lei proibindo fazer qualquer imagem de Deus por temor de cair na idolatria, o povo judeu se cercava de um simbolismo todo particular; tinha divinizado as letras e os números que lhe representavam o poder de Jeová.
Assim criou-se a tradição à qual devemos a Cabala. Porém, a maioria da sociedade não compreendia um pensamento de tão alto alcance; ligava-se somente a formas e práticas, às quais atribuía uma utilidade direta e imediata.
O pensamento de Moisés, salvo entre raros espíritos, veio a ser letra morta. Jesus trouxe a esta letra que mata o influxo do espírito que vivifica.
Levava ao povo, miraculosamente salvo da opressão por um homem de gênio, inovadas de bondade, justiça, igualdade e fraternidade.
Não é aqui, decerto, o lugar para discutir sobre a Divindade de Jesus. No primeiro estudo, consideraremos Jesus e, sobretudo, a sua bela doutrina moral unicamente sob o ponto de vista iniciático. Jesus apareceu-nos como um grande iniciado, um ser superior, trazendo ao mundo uma moral e uma sensibilidade desconhecidas na sua época, tendo conhecimentos e vistas que ultrapassavam muito o pensamento de seu tempo.
Segundo podemos ler nas escrituras, Jesus era um ser maravilhosamente dotado, possuindo um magnetismo natural que irradiava de toda sua pessoa e que uma ascensão estrita e uma bondade radiante o fazia mais poderoso ainda.
Suas palavras, sempre doces e iguais, salvam nos casos muito raros em que se deixou transportar por uma santa indignação, tinha o dom que possuem os dóceis e fortes. Jesus espalhava em torno de si a força e a coragem; reconfortava os aflitos e dava esperança àqueles que sofriam.
Por sua doçura e benevolência, tinha adquirido um grande ascendente sobre aqueles que se beneficiavam de seus dons. Todos os que o rodeavam, amavam-no. A inveja só causava o ódio nos corações incapazes de participar de sua bondade. Não somente irradiava em torno dele um poderoso magnetismo que dava a força de viver àqueles cujo coração estava cansado ou doente, mas, ainda, curava os doentes apenas com o seu contato. Um encanto benéfico emanava de toda a sua pessoa. A paz de seu coração espalhava-se em torno dele como a luz muito doce que sai de uma lâmpada velada.
Como todos os grandes corações que produzem em um cérebro poderoso a força de dar ao mundo uma Lei nova, Jesus era um poeta e tudo o que se nota de suas palavras nos mostra seu coração aberto às grandes harmonias da natureza.
As flores, o “lírio dos campos que não fia nem tece”, os “pássaros do céu que não semeiam nem colhem”, eram-lhe caros e ele compreendia a profunda e íntima beleza.
Aprazia-se na solitude de seu país tão áspero, com doces vales floridos. Amava os lagos piscosos, as montanhas e, quando a multidão o rodeava, inebriado de entusiasmo, produzia logo esta admiração febril e procurava entre as flores de alguns vale agradável, uma calma solidão para tratar dos grandes problemas que atormentam o espírito humano.
Como receber a revelação que Jesus levava ao mundo?
É difícil saber-se.
Da-se-lhe o nome de filho de Deus, mas é um nome que os iniciados do Oriente se dão freqüentemente. O que é particular a Jesus é que se sente constantemente em comunhão direta com seu Pai celeste. Não se atribui só esta qualidade de filho de Deus; mas falando a seus discípulos, diz-lhes, às vezes: “Sede perfeitos como vosso Pai é perfeito”.
Para chegar a uma sensibilidade perfeita, a mais alta pureza de alma e de corpo, ele não tem necessidade de procurar esta comunhão de todas as horas que ordena aos seus; ele a possui; retira-se e, de súbito, sente-se banhado por grandes eflúvios que vêm dos mundos superiores. As forças que compreendemos com custo penetrá-lo-iam como o perfume penetra a esponja de uma caçoila; os ritmos mais secretos da Natureza eram-lhe reservados pela graça de uma organização de uma esquisita delicadeza feminina.
Deus, tal como Jesus o concebe, não é o Deus severo, tonante sobre o Sinai para espantar o povo de Israel, sempre inclinado à revolta. Para ele, Deus é o Pai de todas as coisas, de todos os seres e não abandona à miséria as mais ínfimas de suas criaturas.
Como deixaria o homem que ele fez à sua imagem e semelhança?
Cheio de doçura e poesia, Jesus lança na Natureza habitual comparações e parábolas para aqueles que compreenderão perfeitamente, dizendo o que ele sabe, na medida em que ele pode revelar a todos; mas, à margem deste ensinamento florido e cheio de suavidade, guarda para os iniciados que escolheu, um sentido cristão esotérico; ele não dá a todos a chave de suas parábolas, “afim de que, vendo, não vejam; ouvindo, não ouçam”.
Sua própria vida é uma parábola, uma ilustração de sua doutrina.
Em muitas investidas, os profetas, seus antecessores, tinham fulminado contra os “adúlteros” de Judá ou de Israel, caindo no culto dos deuses estrangeiros. E para mostrar que o reino de perdão começou, em oposição ao espantalho da pena de talião, não por um texto formal, em contradição com um código, mas por esta palavra que devia despertar tantos ecos no coração dos homens: “Aquele que está sem pecado, lance a primeira pedra”.
Além disso, o povo não saberia mais ser adúltero para com seu Deus, porque, no pensamento e no ensinamento de Jesus, não havia mais deuses estrangeiros. O Deus que ele prega, a luz que ele leva e não deve ficar oculta, não é mais o Deus de Israel, que não favorece senão este pequeno povo das margens do Jordão; é o Deus de toda a terra, que não se adorará mais nos templos e por sacrifícios, porém, que se adorará por toda parte em espírito e verdade. No seu espírito e no seu coração, é rebaixar Deus fazendo-o guarda de alguns bens, para alguns raros eleitos.
Deus é o Deus único, mas, por isso mesmo, não restringe o seu infinito poder.
Eis porque Jesus ordena que o sigam e o perpetuem para ir ensinar em todas as nações. Se Deus, como é verdadeiro, criou o céu e a terra, todo o céu e toda a terra estão com ele com seus habitantes e não se pode fixar um lugar mais agradável para ser o mesmo adorado entre todos os paises que comporta a imensidade da Criação.
Desta idéia vem a revolução que Jesus vinha fazer no mundo: conduzia o reino de Deus sobre a terra e o céu. E este reino não é somente para alguns, mas para todos: “O reino do céu está entre vós, dizia àqueles que perguntavam sobre os sinais e milagres para provar a sua doutrina”.
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