Jesus, sabendo que não viveria muito tempo, tinha, desde o começo, escolhido doze discípulos que deviam continuar a sua obra. Estes discípulos tinham sido escolhidos entre os seus fiéis mais atentos; conhecemo-los com o nome de apóstolos.
Após uma iniciação especial, estes apóstolos participam dos poderes de Jesus.
Como ele, podiam efetuar curas pela imposição das mãos.
É também pela imposição das mãos ou unção de óleo consagrado, que eles expulsavam os demônios. Podiam manejar sem perigo os reptis venenosos e beber com a máxima calma, impunemente, beberagens mortais.
Conflitos de doutrina e de interesses tornavam-se mais vivos em torno de Jesus. Este sentia que a sua hora era chegada e disso deu parte àqueles que o rodeavam.
Os detalhes da morte de Jesus estão muito presentes na memória de todos para que seja necessário repeti-la aqui.
Seus interrogatórios, diante daqueles que tinham preparado a sua morte, como se prepara um sacrifício, teriam desarmado os seus inimigos, mas a inveja não se desarma jamais.
A multidão que, poucos dias antes, lançava flores e seus mantos à sua passagem, reclamava a sua morte em grandes gritos.
Seus próprios apóstolos fugiram diante de sua angústia. Apenas João, Maria de Magdala e a mãe de Jesus seguiram-no até o Calvário.
Nem os suplícios nem a morte arrancaram uma queixa àquele que se entregava para dar a paz ao mundo. Morreu, perdoando os seus carrascos e prometendo o Paraíso a um dos ladrões, entre os quais tinha sido crucificado.
Começou aí a ação dos Apóstolos. A vida de Jesus, como a dos iniciadores orientais, magnifica-se por lendas e toma cada vez mais o valor de um símbolo. Mas o que ficou intacto da influência do Mestre, foi a radiante imagem daquele que não tinha ordenado senão com amor, cuja doutrina inteira não era senão fraternidade, piedade, perdão e que, deste modo, combatia a dureza do mundo antigo – sobretudo depois da conquista romana – a maior revolução que havia sido feita em nome da clemência e da bondade.
Tem-se muitas vezes aproximado a religião de Jesus da religião de Buda, mas não se tem sublinhado suficientemente a preferência incessante concedida por Jesus ao mais humilde, ao mais vil, ao mais vil, muitas vezes mesmo ao mais indigno.
O rico mau é punido pelas chamas eternas, mas não se mostrou bom rico; quando um moço de família opulenta pediu a Jesus para ser admitido no meio de seus discípulos, ele pediu-lhe primeiramente que desse todos os seus bens aos pobres. E o jovem se retirou muito triste, porque possuía grandes bens. Não há palavra de censura no Evangelho, mas a partida do adolescente sublinha, por uma poderosa imagem, a incompatibilidade da nova religião com o apego aos bens do mundo.
Jesus não tem que fazer de seus bens. Para ele, uma única riqueza é notável: a do coração, a beleza dos sentimentos. Perdoa à pecadora “porque ela muito amou”, preferindo o abandono de si mesma em um amor impuro à egoística procura do ouro e do aplauso público. Como vimos, não é preciso amara somente aqueles aos quais estamos ligados pelos laços de sangue e de amizade, nem somente aqueles que nos têm feito experimentar a sua benevolência, mas ainda, e sobretudo, aqueles que nos têm afligido e ultrajado.
Da mesma forma, nós nos aproximamos tanto que está em nosso poder a misericórdia divina.
As ternas palavras de Jesus para com as crianças que correm para ele e o rodeiam, entes que ele preferia por suas espontaneidades e pureza; a viva poesia de suas parábolas onde pinta deliciosamente a Natureza, nos demonstram mesmo o seu amor pelas coisas, pelos seres inanimados que saem da mão do Pai. Sua religião é toda amor, fraternidade, união de almas, muito mais elevada e mais além do que se pode imaginar nos elos dos partidos políticos e até a fraternidade de sangue ou de pátria.
Como todas as coisas humanas, a religião de Jesus não conserva por muito tempo, na prática, todo esplendor do seu ideal.
Veio um momento em que a religião nova, tendo triunfado, vem a ser religião do Estado e, regularizada, amoldada à firme disciplina romana, perdeu a sua graça e leveza.
Além disso, é quase impossível pedir ao conjunto de seres os mesmos sentimentos elevados que se pode esperar somente de uma reunião seleta de iniciados.
Certamente, a religião cristã conduz ao mundo um ideal que transforma e lhe permite uma evolução que os nossos olhos, muito acostumados, não discernem, porém que o nosso pensamento se dirige para o doce iniciador que pregou a doçura e a piedade sobre os caminhos da Galiléia, nós não podemos deixar de lamentar que todos aqueles que o seguiram não tivessem conservado a suavidade desta grande figura.
E o nosso espírito lamenta também que o esoterismo cristão tenha sido eclipsado entre nós.
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