domingo, 14 de abril de 2013

O Perfil Maçônico


Irm Ambrósio Peters ( * )
A través da história tem o homem manifestado uma tendência, que diríamos inata, de lutar e trabalhar em grupos, de se compor em organizações e formar associações, quer procurando a satisfação de seus anseios individuais, quer buscando alcançar suas metas grupais, a que isoladamente não poderia jamais chegar.
Houve, até, agrupamentos humanos, como os colégios funerários romanos, que visavam unicamente dar a seus membros, no final de suas vidas, um enterro e uma campa decentes.
Floresceram as guildas e corporações intensamente durante toda a Idade Média, estendendo?se quase até o final da Idade Moderna. Essas associações tinham o escopo principal de agregar os profissionais de uma determinada atividade, tanto para se protegerem mutuamente, como para tratar da defesa dos interesses gerais da classe.
Mais recentemente, os historiadores concluíram através de suas pesquisas que esses colégios, corporações ou guildas, além de sua finalidade material e ostensiva, também tinham entre seus membros ligações mais íntimas de caráter religioso, e que suas reuniões, de um modo geral, ser realizavam acobertadas pelo segredo e obedeciam a determinados rituais e esquemas rígidos de trabalho.
É inegável, porém, que todas tinham sempre o fato de um interesse comum ligado ao modo de vida dos associados, principalmente sob o aspecto profissional. Os rituais e senhas de reconhecimento eram unicamente um elemento de ligação entre os membros, mantendo não somente o grupo unido, mas também tornando as reuniões mais rigidamente ordenadas e produtivas.
Qualquer cidadão que quisesse pleitear seu ingresso deveria identificar-se com o grupo, e assumir o compromisso de trabalhar incansavelmente pelo bem comum. A identificação de interesses com os dos futuros companheiros era essencial, e cada candidato era rigorosamente submetido a uma sindicância prévia para analisar suas verdadeiras intenções e capacidades. Tentava-se evitar, a todo custo, que um iniciado viesse a prejudicar a harmonia do grupo. Por isso, cada associação estabelecia um perfil avaliativo do cidadão a ser iniciado, e somente quem a ele perfeitamente se adaptasse lograria ser aceito.
A definição desse perfil era considerada uma necessidade indispensável para que a organização pudesse seguir homogênea e ativa na luta por seus ideais. A fixação das características essenciais do candidato e sua exata definição não poderiam ser desprezados sob nenhuma forma sem o perigo de graves danos à comunidade.
Temos aí uma premissa básica a ser seguida se quisermos um grupo unido e coeso, capaz de atingir suas finalidades, grupais ou individuais. Não se pode permitir a existência de vozes contrárias e destoantes comprometedoras da boa ordem dos trabalhos. A história nos diz que as guildas, corporações e colégios seguiam rigorosamente esse estatuto, observância que lhes deu vida por mais de mil anos.
É muito natural, portanto, que a Maçonaria, como toda e qualquer sociedade que se proponha altas finalidades sociais, estabeleça um rígido perfil para enquadramento dos candidatos à iniciação, perfil esse que deve delinear com precisão as qualidades básicas mínimas e indispensáveis desejadas.
Já é nosso hábito dizer que somente damos ingresso a homens 1ivres e de bons costumes". Essas qualidades, contudo, nos parecem absolutamente vagas e imprecisas, por não serem capazes de definir a verdadeira personalidade de alguém.
É mister procurar com denodado empenho uma elaboração mais exata para o perfil das pessoas que queremos trazer para o nosso meio e engajar na luta pelos ideais maçônicos. Necessitamos, na realidade, de verdadeiros homens de iniciativa, com decisão de luta pelo bem comum de nossa sociedade, que possam efetivamente envolver-se com o nosso grupo, com disposição também de dedicar-se sem esmorecimento à elevação de seu nível cultural individual.
Ser "livre e de bons costumes" seria apenas um poluo de partida para analisar um candidato; porém em segundo lugar, mas não secundariamente, aquilatar outras qualidades imprescindíveis como disposição para o estudo sério, para a filantropia, para a luta pela solução de problemas sociais, disposição para lutar, enfim, por uma boa causa.
Em suma, queremos homens "livres e de bons costumes" sim, mas também culturalmente avançados, verdadeiros líderes sociais, intensamente dedicados à busca da perfeição não somente em si mesmo mas em toda a humanidade. É neste ponto que se origina a maior parte dos problemas internos de nossa Ordem.
É notoriamente difícil encontrar candidatos que se ajustem com perfeição a esse perfil, ainda mais porque essa exigência tolhe o desejo de muitas Lojas que querem a todo custo aumentar os seus quadros, como se isso representasse algum fato positivo em seus trabalhos.
Mas, analisemos mais pormenorizadamente as duas qualidades referidas inicialmente, e que sempre mencionamos em nossos trabalhos: "Livre e de bons costumes". Verificaremos que se prestam a interpretações ambíguas, pois têm um sentido demasiadamente amplo e indefinido.
O que é um homem livre?
Livre para ir e vir conforme assegura a Constituição Brasileira? Livre em contraposição a escravo? Livre de laços de juramento com outras associações similares? Livre das imposições do seu meio social? Livre de pressões de parentes e amigos? Livre de pensamento?
Seria, ainda, ser livre contar com a coragem suficiente para arrostar com a reprovação da sociedade para com todo aquele que tenha a ousadia de ser diferente, diferente apenas, do pensar da maioria?
Provavelmente naqueles primeiros tempos em que a Maçonaria Especulativa começou a substituir a antiga Maçonaria Operativa, quando as guildas de pedreiros vinham perdendo sua finalidade em virtude da vulgarização dos segredos de construção, a expressão "livre" era entendida em seu sentido literal, ou seja, livre da peia de ser escravo ou servo.
Evidentemente não é mais essa a conotação de liberdade que hoje referimos, eis que no oriente, no sentido estrito da palavra, não temos mais escravos, embora devamos admitir que uma família que receba apenas um salário mínimo esteja em piores condições do que um escravo, pois a este se garantiam a comida, a moradia e o vestuário.
O termo livre tem hoje uma interpretação muito mais nobre em nossas sindicâncias,, sendo definida em sentido mais de liberdade mental do que física. Entendemos como homem livre, ou deveríamos sempre entender, aquele com coragem suficiente e evidente capacidade de escolher livremente os seus passos, e determinar ele próprio os rumos de sua vida. Homem livre é um homem de iniciativa, dono de seu próprio destino, que ousa pensar sem imposição de limites para isso.
Mas, poderá um homem livre assim praticar alguma religião carregada de afirmações dogmáticas, e ser ao mesmo tempo um maçom convicto? Evidentemente que sim, desde que ele adote essa fé e seus dogmas como uma livre escolha sua, como urna conclusão de seu processo cognitivo, como um ponto de chegada de sua busca intelectual; desde que ele aceite esses dogmas como uma verdade plausível perante sua consciência.
Certa vez, em viagem, identifiquei-me junto a alguém que de antemão sabia ser maçom. Ele correspondeu, mas imediatamente esclareceu que abandonara nossos trabalhos porque seu pároco, ele era católico, lhe dissera que teria de optar entre Maçonaria e Igreja, pois as duas se excluíam mutuamente.
Evidentemente esse ex-Irmão não chegou a conhecer nossa Ordem, como não conhecia sua própria religião. Não era tampouco, seu procedimento o denunciava, um homem livre; tinha necessidade de alguém a pensar por ele. Possivelmente teria sido mais uma vítima da preocupação que algumas Lojas têm de aumentar os seus quadros. Uma sindicância um pouco mais rigorosa teria mostrado que ele não deveria ter sido iniciado.
Liberdade não é uma aparência externa do indivíduo, é antes uma condição interna que permite agir sem condicionamento e sem constrangimento, sem limitações impostas por outrem. Liberdade é uma posição conscientemente assumida, tolerada apenas a limitação da própria capacidade intelectual. Essa posição não será revelada pelo comportamento visível de um candidato, somente o seu passado o revelará.
Mas, há um segundo quesito' que costumamos exigir dos que desejam a Iniciação: ser um homem de bons costumes. Esta é uma expressão muito mais ambígua ainda. Tentemos defini?Ia e veremos quantas dificuldades se nos depararão. "De bons costumes" é popularmente considerado aquele hábito que leva o cidadão a proceder de acordo com a maioria de seu meio social, a seguir os usos gerais de procedimento adotados como corretos pelo grupo dominante.
Conheço homens que são considerados "de bons costumes" apenas porque publicamente se comportam segundo um padrão preestabelecido. Não têm títulos protestados, são pontuais no pagamento de suas dívidas, têm ficha policial sempre limpa, mantêm oficialmente um lar com esposa e filhos, em suma, na aparência externa, nada se provará contra eles, e uma sindicância superficial não os condenará. Mas no seu foro íntimo, são verdadeiros tiranos com seus inferiores e seus familiares, fazem quaisquer negócios escusos quando podem esconder a mão, aceitam e dão propinas e subornos; são cidadãos que pensam exclusivamente em seu próprio bem-estar e posição social.
Não se pode naturalmente definir um homem por suas aparências sociais. Ser realmente livre e de bons costumes são facetas muito íntimas de foro interno de cada um, que não podem ser aquilatadas por uma mera e superficial análise externa, muitas vezes eivada de considerações e influências pessoais.
Há que se recorrer a outros meios que não esses prismas para analisar corretamente o perfil moral de um homem. O seu passado deve ser percorrido. Como disse muito sabiamente o escritor grego Políbio, não é o presente que define um homem, mas sim os atos e fitos de sua vida pregressa.
Percorramos a estrada da vida de nossos candidatos. Procuremos ver o que eles já fizeram pelos seus semelhantes, se eles têm efetivamente participado de atividades sociais, se já têm voluntariamente assumido trabalhos comunitários, se têm demonstrado espírito de iniciativa.
Se um homem já se aproxima da metade de sua vida e nunca participou ativamente da solução dos problemas de sua comunidade, se é adepto de uma religião e se limitou a assistir passivamente aos cultos em ocasiões obrigatórias, se em matéria de cultura nunca foi além da leitura superficial de jornais e revistas, poderemos afirmar com certeza que é assim que ele será em nossas Lojas. Jamais nossa Ordem poderá contar com ele. Não é por entrar para a Maçonaria que alguém se tornará homem atuante do dia para a noite, ou virá a ser um homem interessado em seu desenvolvimento pessoal. Jamais será um verdadeiro Maçom.
Não poderemos aceitar como digno de Iniciação alguém que de positivo apresente apenas a característica de ser um bom cidadão, ou que seja considerado de bons costumes por não ter feito mal a ninguém. Essa máquina com que datilografo estas linhas também pode ser considerada boa porque não faz mal a ninguém; ela é exatamente como aquele cidadão, apenas bom, mas que para produzir algo proveitoso deve ser permanentemente manejado.
Ao acolhermos a apresentação de novos candidatos, deveremos fazer prevalecer sempre o bom senso e a responsabilidade, tanto dos apresentantes como dos sindicantes, do corpo da Loja, da Administração Central do Grande Oriente. A análise dos dados apresentados deve ser profunda e cuidadosa. O passado do apresentado deve ser a base de uma pesquisa muito ampla e conscienciosa.
As liberalidades para com amigos e pessoas por ocuparem cargos de destaque têm permitido que entrem para nossa Ordem muitos candidatos que nada mais são do que simplesmente livres (não escravos) e de bons costumes (apenas bons cidadãos), mas cujo passado nada mais mostra do que um caminho deserto sem nada de positivo a ser anotado.
A condescendência, as liberalidades, os precedentes são o grande mal que afligem o funcionamento de muitas associações, e principalmente não poucas de nossas Lojas.
Como são raros os candidatos que poderiam se enquadrar no perfil de perfeição que tentamos delinear, e como muitas Lojas deixam entrever um desusado interesse em ampliar o quadro de seus obreiros, possivelmente para encobrir a falta de outras iniciativas mais substanciosas, verifica?se um apressamento dos cerimoniais de Iniciação. Freqüentemente, por isso, são iniciadas pessoas que nada trarão para nossa Instituição, muito ao contrário, sua inércia será muito prejudicial e contagiante.
E a observância do perfil rigoroso antes estabelecido vai se abrandando. As considerações de amizade e uma indisfarçada admiração por quem ocupa cargos públicos importantes, forçam um relaxamento do processo de seleção. De concessão em concessão se inicia uma reação em cadeia.
Os mesmos que foram iniciados em virtude de uma sindicância facilitada, quando por sua vez apresentarem os seus candidatos usarão um perfil ainda mais diluído. O nível geral da Ordem, como estamos assistindo nesse momento histórico, vai decaindo, não no sentido moral evidentemente, mas pela ausência de homens dinâmicos com quem a Maçonaria necessita contar para poder atingir os seus altos objetivos. A própria freqüência aos trabalhos, por vezes muito aquém do desejado, é um atestado desse fenômeno.
Embora devamos admitir que a condescendência se tomou quase universal, afetando em todo mundo as associações de qualquer natureza, ela não deveria existir na Maçonaria, dada a seriedade com que costumamos encarar nossos trabalhos. Essa reação em cadeia também vem nos atingindo, levando para baixo o nível de nossa eficiência, tão decantada em outros tempos.
Nossa atenção a esse fato social deverá ser dobrada, agora, para que não deixemos chegar esse nível a um patamar perigoso, pois a experiência evidencia que quando isso ocorre a própria existência da associação se vê ameaçada. Muitos membros de nível cultural mais elevado poderão se afastar silenciosamente por não encontrarem guarida para seus esforços pela dinamização da luta por ideais que tanto apregoamos serem nossos.
Qualquer associação que se permita cair no conceito de seus próprios membros está chegando a um limiar indesejável e perigoso para a sua própria sobrevivência.
Nossa Ordem nunca poderá ser maior ou melhor do que o forem os Irmãos que a constituem. Nem se aceitará aquela observação de alguns pusilânimes que dizem querer deixar a Instituição porque não encontraram nela o que procuravam, pois habitualmente nada fizeram ou fazem para modificar a situação. A Maçonaria será tão grande e boa quanto nós, os Irmãos, se formos grandes e bons individualmente.
Esses que assim pensam são exatamente aqueles que em sua vida pregressa nada fizeram de grandioso e meritório, e entraram na Maçonaria pensando que ela faria isso por eles; pretendiam apenas engrandecer-se às custas dos Irmãos.
Cuidemos para que não entrem para o nosso grupo aqueles que Cristo já rejeitou como nem frios nem quentes: os medíocres.
Os pusilânimes não fazem história, são apenas levados de roldão. Percorramos a trilha da história da humanidade e veremos que ficaram apenas os nomes dos que foram ou muito bons ou muito maus. Procuremos ficar na evidência por termos sido muito bons, muito grandes em nossa luta por uma vida melhor, por uma MAÇONARIA GRANDE E UNIDA.

Grupo Maçônico ORVALHO DO HERMON

Vitrúvio - o Microcosmo e o Gnómon





«O Número é a alma das coisas» (Pitágoras)

 
1 - O Templo


Até ao advento do cristianismo, a construção de templos aos deuses no mundo greco-romano obedecia a cânones arquitecturais precisos, que só vieram a ser expostos por escrito por Vitrúvio no século I a.C. na sua obra monumental “De Architectura”. Deste extenso tratado de Vitrúvio, expomos em seguida os quatro primeiros artigos do capítulo terceiro, que expõem sucintamente esses cânones para a construção de templos (1):
«A planta dos Templos depende da Simetria, cujas regras devem ser cuidadosamente observadas pelos Arquitectos. A Simetria nasce da proporção, que os gregos chamam ἀναλογία. A Proporção é a devida regulação das dimensões das diferentes partes, entre si e com o conjunto; da harmonia desta regulação depende a Simetria. Assim, de nenhum edifício se poderá dizer que foi bem desenhado, se não atendermos à sua simetria e proporções. Em verdade, elas são necessárias para a beleza do edifício, assim como para uma bem proporcionada figura humana» (Capítulo III, 1).

«O que a natureza estabeleceu é que, na cara, desde o queixo até o alto da testa, ou das raízes do cabelo, correspondem a uma décima parte da altura do corpo todo. Desde o queixo para a coroa da cabeça é uma oitava parte de toda a altura e, a partir da nuca do pescoço à coroa da cabeça, o mesmo. Desde a parte superior do peito às raízes do cabelo um sexto; à coroa da cabeça, um quarto. A terça parte da altura da face é igual à distância compreendida à que medeia entre o queixo e a parte inferior das narinas, outro terço até ao meio das sobrancelhas; e daqui às raízes do cabelo, onde termina a testa, o terceira parte restante. O comprimento do pé é uma sexta parte da altura do corpo. O antebraço, uma quarta parte. A largura do peito uma quarta parte. Da mesma forma os seus membros têm outras devidas proporções, em respeito às quais, os antigos Pintores e escultores granjearam tanta reputação» (Capítulo III, 2).

«Assim, as partes dos Templos devem corresponder entre si, e com o todo. O umbigo é, naturalmente, colocado no centro do corpo humano e, no caso de um homem deitado com o rosto para cima, e as mãos e os pés estendidos, e tendo o seu umbigo como centro, um círculo será descrito, que tocará os seus dedos das mãos e dos pés. Não é só por um círculo que o corpo humano é circunscrito, como pode ser visto se o figurarmos dentro de um quadrado. Medindo desde os pés à coroa da cabeça e, em seguida, à largura dos braços bem estendidos, constatamos que estas medidas são iguais às anteriores; de modo que duas linhas com ângulos rectos entre si, encerrando a figura, formarão um quadrado» (Capítulo III, 3).

«Se a Natureza constituiu o corpo humano de forma que os diferentes membros do mesmo são medidas do conjunto, assim, os antigos, com grande propriedade, determinaram o mesmo na perfeição das suas obras, cada parte deve ser uma parte alíquota do todo; e desde que o estabeleceram, tem vindo a ser observado em todas as suas obras, e de forma mais rigorosa, nos templos dos deuses, onde as suas falhas, tal como as suas belezas, permanecerão até ao fim dos tempos» (Capítulo III, 4).

O ideal greco-romano para a construção de templos cumpre assim um denso esoterismo: o homem é a medida de todas as coisas (Protágoras), e as suas proporções geométricas certificam que o Homem Individual (Microcosmo) presente na arquitectura sagrada é uma projecção do Homem Cósmico (Macrocosmo), divino e perfeito. O templo, tendo o Homem como modelo, enfatizava a sua função de ponte entre o indivíduo e as potências cósmicas.

A forma rectangular dos templos gregos e romanos, representava assim o corpo do homem e, por analogia, os céus. O rectângulo é uma extensão geometricamente proporcional do quadrado (2), e o quadrado ou quaternário, a expressão mais pura do espaço e do tempo: quatro regiões, Idades do homem, Eras do Mundo, estações do ano, fases da lua, etc.

O Homo Quadratus encarnado na arquitectura sagrada, é um símbolo pleno de significado. O seu centro assinala o ponto axial do mundo (o umbigo), uma cruz desenhada no interior do quadrado, e a divisão dos quatro quadrados resultantes em oito triângulos, resultam no seccionamento do quadrado em oito linhas que divergem do seu centro, e que apontam para os pontos cardeais e para os quatro cantos do mundo – divisão óctupla do espaço sagrado.
Assinalemos que o templo em forma de quadrilátero e a valorização religiosa das formas e volumes geométricos, não é uma criação dos gregos, mas que estes prolongam uma tradição milenar perpetuada nas margens do Nilo, onde podem ser encontradas as raízes do orfismo, e onde Pitágoras e Platão foram instruídos por sacerdotes egípcios.
Para a escola de Pitágoras, o quaternário era a origem da natureza divina e a raiz da tétractis (1+2+3+4), de cuja soma resultava o 10, a Década, o Número da Perfeição, e unindo com um traço a cabeça e os membros do Homem de Vitrúvio, obtém-se o Pentagrama, que era para a escola de Pitágoras, o símbolo do homem enquanto microcosmo, síntese do homem e do cosmos (número nupcial, matrimónio do número dois, masculino, e do número três, púbico e feminino). A geometria religiosa dos pitagóricos escalonava assim os números da tétractis: o um era a origem, a fonte da divindade e de todos os números; dois, o desdobramento do um, fonte da dualidade criadora; três, o universo vertical, céu, terra e inferno; quatro a justiça, a estabilidade; cinco o número nupcial; dez a perfeição absoluta. Ou, numa perspectiva espacial, um é o ponto (o ponto axial, do círculo ou do quadrado), dois, a linha, três a superfície, quatro, o volume (3). Todos estes números, mais o seis, o Número da Inteligência, repetem-se nas proporções acima transcritas da tratadística de Vitrúvio, e o seu Homem inscrito num quadrado (homo ad quadratum) interior a um círculo (homo ad circulum), não deixa de evocar a cosmologia pitagórica (4).

Continuemos com Vitrúvio:

«Os antigos consideravam o dez, um número perfeito, porque os dedos são dez em número, e o palmo deriva dele, e do palmo deriva o pé. Platão, atendendo a isso, chamou ao dez, um número perfeito; a Natureza formou as mãos com dez dedos, e também porque o dez é composto por unidades chamadas μονάδες em Grego» (III, 1).

2 – A Cidade Ideal


Para Vitrúvio, a planificação de uma cidade requeria tantos cuidados como a construção de um templo, e dedica grande parte da sua dissertação à disposição da cidade em função dos oito ventos.

«Com uma laje de mármore cria-se um nível fixo no espaço encerrado pelas muralhas, ou faz-se com que o terreno seja aplainado e nivelado de modo que a laje de mármore não seja necessária. No centro deste terreno plano, com o propósito de marcar correctamente a sombra, deve ser erigido um gnómon metálico. Os Gregos chamam a este gnómon cσκιαθήρας. Por volta da quinta hora da manhã, deve ser determinada a extremidade da sombra projectada pelo gnómon, e marcada com um ponto. Do ponto central do terreno, onde o gnómon está fixo ao solo, como um centro, descrever um círculo a partir do ponto assinalado pela extremidade da sombra. Depois do Sol ter passado o meridiano, observar a sombra que o gnómon continua a produzir até ao momento em que a sua extremidade toque novamente no círculo já traçado (5).

«A partir dos dois pontos obtidos na circunferência do círculo, descrever dois arcos interseccionantes entre si, e através da sua intersecção e do círculo inicialmente descrito, traçar uma linha até à sua extremidade – e obtém-se o diâmetro que deve separar os quartos do norte e do sul. A décima sexta parte da circunferência do círculo completo será medida para a direita e para a esquerda dos pontos norte e sul, e desenhadas linhas dos pontos obtidos para o centro do círculo, temos uma oitava parte da circunferência para a região norte e outra oitava parte para a região do sul. Divide-se o que resta da circunferência em cada lado em três partes iguais, e obtemos a divisão das regiões dos oito ventos, então projectar as direcções das ruas em função das linhas que separam as diferentes regiões dos ventos» (Capítulo I, 6, 7).
Vitrúvio descreve a planificação de uma cidade como era tradição no mundo antigo, mas acrescenta-lhe uma dimensão teórica, ideal, não cumprida até então: a cidade deveria não só ser orientada nas oito direcções (pontos cardeais e cantos do mundo), mas ter além disso, a forma de um octógono, a sua forma perfeita, com cada uma das faces voltada para um dos oito ventos dos geógrafos gregos e latinos: Setêntrio (norte), Áquilo, (nordeste), Solanus (Este), Eurus (sudeste), Auster (sul), Africus (sudoeste), Favonius (Oeste) e Corus (Noroeste).
O centro da cidade de Atenas, o seu umbigo, era uma torre com a forma octogonal, a torre dos Ventos de Andronicus Cirrestes, profusamente descrita por Vitrúvio, com faces no término dos oito raios do compasso, cada uma delas decorada com uma alegoria do vento que enfrentava (7).

 
Esta insistência de Vitrúvio nos oito ventos, dissimula um sentido esotérico subjacente.

Tudo começa com a “escolha” de um centro (o umbigo do microcosmo), muitas vezes, decerto, com rituais divinatórios para auscultar a vontade dos deuses ou perpetuando um lugar sagrado pré-existente. Nesse centro ergue-se o gnómon, que é a unidade sagrada, o ponto de irrupção de divino, eixo que unirá os três mundos na vertical.

A parir do gnómon traça-se o círculo, que delimita a fronteira do espaço cósmico, e desse círculo solar se obterá, com dois círculos interseccionantes, os quatro ângulos do quadrado interno que pode ser esquartelado pela cruz que aponta os pontos cardeais. Círculo, quadrado, cruz, que produzem o octógono, expressão da união da terra (o Quadrado) e do Céu (o círculo). Á divisão óctupla do espaço podemos acrescentar a divisão em oito do dia e do ano que eram praticados na Europa e Mediterrâneo e que persistiu na roda celta das oito festividades anuais. Para os pitagóricos, o oito seria considerado o Número da Igualdade, porque colocava no mesmo plano o mundo terrestre e o mundo celeste, os deuses e os homens (8).
Encontrei um texto de Réne Guenon, no qual ele reforça a ideia de que na arquitectura religiosa, ao quadrado corresponderia o edifício quadrangular em si, enquanto a esfera presidia a construção da abóbada do templo. Ainda que seja um anacronismo falar de abóbadas para o mundo grego, a sua explanação sobre o esoterismo do octógono merece ser seguida:
«As formas quadradas ou cúbicas referem-se à terra, e as formas circulares ou esféricas ao céu; o significado destas duas partes resulta imediatamente disto, e acrescentemos que a terra e o céu não designam aí, apenas, os dois pólos entre os quais se produz toda a manifestação, como ocorre particularmente com a Grande Tríade extremo-oriental, mas que correspondem igualmente, como no Tribhúvana hindú, aos aspectos dessa mesma manifestação que estão mais próximos, respectivamente, dos ditos pólos e que, por essa razão, se designam por mundo terrestre e mundo celeste. Há um ponto sobre o qual tivemos oportunidade de insistir anteriormente, mas que merece ser tomado em consideração: enquanto o edifício representa a realização de um "modelo cósmico", o conjunto da sua estrutura, se a reduzirmos exclusivamente a essas duas partes, seria incompleto no sentido de que, na sobreposição dos "três mundos", faltaria um elemento correspondente ao "mundo intermédio". De facto, esse elemento existe também, pois o domo ou abóbada não pode assentar directamente sobre a base quadrada, e para permitir a passagem de uma forma à outra é necessária uma forma de transição que seja, de certo modo, intermédia entre o quadrado e o círculo, forma que é, geralmente, a do octógono.
«(...) Na construção, a forma do octógono pode realizar-se, naturalmente, de maneiras diferentes, e especialmente, por meio de oito pilares que suportam a abóbada; encontramos um exemplo na China, no caso do Ming-Tang (...), cujo "tecto redondo está suportado por oito colunas que repousam sobre uma base quadrada, com a terra, pois, para realizar esta quadratura do círculo, que vai da unidade celeste da abóbada ao quadrado dos elementos terrestres, é necessário passar pelo octógono, que se encontra em relação com o mundo intermédio das oito direcções, da oito portas e dos oito ventos" (Luc Bennoist, "Art du Monde", p. 90). O simbolismo das "oito portas", que se menciona também nesta passagem, explica-se pelo facto de que a porta é essencialmente um lugar de passagem e representa, como tal, a transição de um estado a outro, especialmente, de um estado "exterior" a outro "interior", pelo menos relativamente, porque essa relação do "exterior" e do "interior" é sempre comparável, em qualquer nível que se situe, à do mundo terrestre e o mundo celeste».
Ŋ
Ŋ
Ŋotas:

(1) Servimo-nos da edição online da obra, em língua inglesa, do portal LacusCurtius de autores gregos e romanos
(2) ”O sistema da proporção definida que os gregos empregavam no desenho dos seus templos foi outra causa do efeito que eles produzem sobre as mentes incultas. Para eles não só a altura deveria ser igual à largura, ou comprimento duas vezes a largura - mas toda e qualquer parte devia ser proporcional a todas as partes com que ela se relacionava, em alguma razão tal como 1 para 6, 2 para 7, 3 para 8, 4 para 9, ou 5 para 10, etc. A medida que o esquema avança, esses números tornam-se consideravelmente altos. Nesse caso, eles revertem para alguma razão simples, tal como 4 para 5, 5 para 6, 6 para 7, e assim por diante” (James Ferguson, citado por Nigel Pennick, v. Fontes).
(3) Adaptado da tese “Números para Pitágoras” de Christian Quintana Pinedo.

(4) «Alexandre, no seu “A Herança dos Filósofos” diz ter achado também nos escritos pitagóricos as coisas seguintes: O princípio de todas as coisas é a unidade, e desta procede a dualidade, que é indefinida e depende, como matéria, da unidade que a origina. Assim, a numeração provém da unidade e da dualidade indefinida. Dos números provém os pontos, destes as linhas; das linhas, as figuras planas; e das figuras planas, os sólidos; e destes os corpos sólidos, os quais se compõem de quatro elementos, fogo, água, terra e ar, estes quatro elementos combinam-se entre si e transformam-se completamente uns nos outros, e delas se engendra o universo animado, inteligente, esférico, que tem a terra como seu centro, e a terra também é esférica e habitada no seu interior. Também há antípodas, e o nosso abaixo é o seu acima» (Diógenes Laércio, “Vidas, opiniones y sentencias de los filósofos más ilustres ”, tomo II, Livro VIII – o negrito é meu)

(5) Dito doutro modo, a distância máxima da sombra do gnómon de manhã e à tarde, fornece os pontos cardeais leste e oeste.
(6) «Por isso, Deus tornou o Todo em forma esférica e circular, sendo todas as distâncias iguais, do centro à extremidade. É esta, de todas as figuras, a mais perfeita e a mais completamente semelhante a si mesma» (Platão, "Timeu", 33).
(7) Não nos parece que a torre seja uma mera Rosa dos Ventos, mas um centro, um eixo, construído e respeitado como símbolo do equilíbrio cósmico.
(8) «O octógono resulta da união entre o quadrado da terra e do quadrado do céu, simbolizando a comunicação entre ambos», escreve Paulo Alexandre Loução no quinto capítulo de "Os Templários na Formação de Portugal" (Ésquilo, 2001), capítulo que abre com uma citação de Pitágoras: «O número oito, ou a octóada, é o primeiro cubo, vale dizer, quadrado em todos os sentidos, como um dado, que precede de sua base, o dois, ou de qualquer número; assim, o homem é quadrado ou perfeito".

RITUAL: QUEM PRECISA DELE?

A resposta é curta: “nós precisamos.”

Explicar porque, requer um pouquinho mais.

Em um sentido muito real, é o ritual da Maçonaria que faz o trabalho da Maçonaria. Ritual é o canal através do qual a Maçonaria ensina.

Mas é mais que isto.
Porque o ritual é tão importante para a Maçonaria, é valioso tomar um pequeno tempo para falar acerca da natureza do ritual em si mesmo e porque é tão central para a vivência Maçônica.
Primeiro de tudo, ritual é uma virtual necessidade para todos os humanos, de fato para quase todos os animais. Isto é tão verdadeiro que todos cérebros humanos vem “equipados com circuitos” para responder a ritual. (Maravilhoso, ao seu próprio modo. Muito poucas coisas em seres humanos são instintivas – quase tudo é comportamento aprendido. Mas a resposta para ritual foi localizada por anatomistas na parte mais antiga e primitiva do cérebro, bem acima da estrutura central do cérebro, na mesma área que controla a atenção e as emoções. É tão “natural” para nós como o amor, ou a agressão, ou a cooperação.)
Todos estamos engajados em ritual todo o tempo – nós somente não o reconhecemos sempre. A maioria de nós tem uma rotina matinal, por exemplo. Alguns de nós fazemos a barba antes do banho, alguns fazem a barba após o banho e alguns se barbeiam enquanto se banham, mas, qualquer que seja o modo, usualmente fazemos sempre do mesmo modo.
+ Ritual é uma ferramenta poderosa de ensinar

De fato, foi provavelmente a primeira ferramenta de ensinar. Sabemos de rituais de caça entre algumas tribos, cujo propósito era ensinar os jovens como caçar efetivamente. Mnemônicos (frases ou logos que nos ajudam a lembrar coisas através de associações) são rituais, como é aprender o alfabeto por cantar a canção do alfabeto. Os militares desenvolvem muitos rituais (padrões de comportamento repetidos) para ensinar os recrutas como manter armas.)
+ Ritual ajuda a nos dar um senso de identidade

Pode parecer estranho, mas pessoas freqüentemente definem a si mesmo pelas suas ações (sou um vendedor, um mecânico, um professor, projetista de moinhos, etc). Isto não é limitado ao que fazemos para viver. Nossos rituais, nossas ações, dão um senso destacado de realidade para nossas vidas. Nos sentimos “certos” ou “completos” quando seguimos certos rituais.
+ Ritual ajuda o nosso preparo – nos ajuda a “entrar no clima” do que vem a seguir

Se o evento é uma missa na igreja ou se é um jogo de futebol, a maioria dos eventos repetitivos tem um ritual de algum tipo que ajuda a dar o tom emocional.

E nos podemos ter um forte sendo de “erro” se estes foram violados – se uma missa na igreja iniciou com uma banda de musica e dançarinas ou se um jogo de futebol começou com uma procissão litúrgica, por exemplo.
+ Ritual nos deixa condensar muito em pouco tempo

Ritual enriquece uma vivência por concentrá-la. Ao invés de envolver a exposição completa, como uma palestra, ritual faz referencias a coisas e nos deixa pensar acerca dela e preencher os detalhes por nós mesmos. Para ilustrar com uma porção do ritual da igreja, considere última linha da Doxologia – “Louvar o Pai, o Filho e o Espírito Santo.”

O conceito de Trindade é um conceito muito difícil para a “fazer a cabeça”. Ao invés de dar muitas horas de discussão que seria necessário para explorar este tópico, o ritual simplesmente o menciona, e o deixa para nós elaborarmos o pensamento se estivermos assim inclinados.
O ritual da Maçonaria envolve tudo isto e mais...

• O ritual da Maçonaria – a abertura e o fechamento, os Gráus, até o ritual de votar – organiza os eventos e assegura que tudo aconteça como deveria.

• Nos ajuda a definir nós mesmos como Maçons e estreita os laços fraternais que nos unem como Irmãos. E este efeito é internacional e trans-cultural. Sabemos que temos vivencias compartilhadas com Maçons de todo o mundo.

• É uma ferramenta de ensinar – as lições e os valores da Maçonaria são ensinados através do ritual e de símbolos.

• Ajuda a montar o tom e o clima da reunião – nos ajuda a remover da mente as preocupações do mundo exterior e colocar foco nas grandes verdades de natureza humana e espiritual.

• Ritual Maçônico obviamente condensa vivência. Contém elementos que levantam questões importantes mas que deliberadamente são deixados inexplorados porque quer que o Maçom pense sobre eles através de si mesmo.

• Ritual Maçônico proporciona uma total extensão para os Maçons explorarem os seus próprios interesses. Muitos dos meus melhores amigos amam aprender e apresentar o ritual.
Eu mesmo me interesso em lidar com a interpretação do ritual e dos símbolos que usa – e especialmente com os efeitos que o ritual é projetado para produzir nas mentes dos iniciados e os modos nos quais estes efeitos são produzidos.
Outros são especialmente interessados na história do ritual e os modos que ele mudou e se desenvolveu através dos anos.
Um Maçom que conheço é interessado no ritual do ponto de vista de um antropólogo cultural, e tem prazer em traçar os modos que o ritual se relaciona com as grandes tradições iniciáticas da história.
E o ritual é grande o bastante e complexo o bastante para acomodar todos estes interesses e muito mais.
Então, novamente, a resposta para a questão “De qualquer modo, quem precisa de ritual?” é “Todos nós precisamos”.
O ritual da Maçonaria atende muitas necessidades e muitos interesses.
Não é a mesma coisa que Maçonaria

- não mais quanto um sermão é a mesma coisa que uma igreja

- mas é um modo primário que nós ensinamos e aprendemos.
É a cola (cimento) que nos mantémos juntos. É importante. Nos faz sermos, nós.
W. Bro. Jim Tresner

DESBASTANDO A PEDRA BRUTA



(Benemário Lins da Silva -Aprendiz Maçom) Nesses meus singelos versos, Louvo o GR:. ARQ:.DO UNIV:.. Hoje sou aprendiz, amanhã companheiro, Buscando sempre a perfeição do pedreiro. São João, justo e perfeito, é o meu patrono, Exemplo de homem livre, sem desabono. E ser livre e de costumes bons, Deve ser o ideal de todos os maçons. Entre CCol:., nesta peça de arquitetura, Em profundidade, largura e altura, Mostro como foi árdua a minha labuta Para lapidar e desbastar a Pedra Bruta. No dia em que fui iniciado, Meus olhos estavam vendados, E de metais eu estava despojado. Nem nu nem vestido, assim fui recebido. Tateando no escuro, despojado, carente, Fui levado por caminhos diferentes, Do Oc:. ao Or:., do Or:. ao Oc:., Sob o olhar dos IIr:. mais experientes. Na primeira viagem, ouvi trovões, foi atordoante, Na segunda, um tilintar de armas incessante, Por fim, um caminho silencioso, tranquilizante. No caminho do trovão, o meu caos, minhas paixões, No do ruído das armas, minhas lutas e ambições, No caminho do silêncio, a paz e maduras reflexões. Ao findar cada viagem, portas bati, respectivamente, No S:., no Oc:. e no Or:., Sempre com três pancadas, ritmicamente. Deixaram-me passar e fui purificado, na água e na pira ardente. Ser conduzido ao Altar dos JJur:. foi um solene momento. Ajoelhado no chão duro, sobre o J:. D:., E com pontas de um Comp:. no meu despido P:., Eu jurei, com a M:. D:. sobre o L:. da L:.. Jurei cumprir com os meus direitos e deveres, Contidos nos Códigos e na Magna Constituição, E nos 25 inquebrantáveis landmarks, Inspirados nos Provérbios de Salomão. Só me desvendaram os olhos depois de jurar solenemente, E só então a Luz em mim se fez presente. As espadas, empunhadas por amados e queridos IIr:., Eram raios de Luz, apontados na minha direção. De tão cintilantes, ofuscaram a minha visão. Nesse momento, grande foi a minha emoção. Nessa inesquecível e sublime consagração, Foi-me concedido U:.L:.E:.V:.. E sobre o que se passa nessa Aug:. Instituição, Jurei calar para sempre a minha voz. Como aprendiz, do meio-dia à meia noite, em intenso labutar, E sempre de avental branco com abeta triangular, Sete instruções recebi, as quais vou já comentar, Além da primeira, chamada complementar. Nesta instrução, dividida em três partes, Muito me foi ensinado sobre a Real Arte. Inicialmente, todo o Templo me foi descrito, Com a sua simbologia e como se conduz o Rito. Depois, os segredos do meu grau me foram comunicados, E o S:., o T:. e a P:. serão sempre lembrados. A esq:. do nível e do prumo são essenciais nessa labuta De desbastar, nos meus três anos, a Pedra Bruta. Por último, me foram mostradas duas verdades, A Carta Constitutiva da Loj:., atestando sua regularidade, E as bolsas, de PProp:. e IInf:. e do Tr:. de Sol:. Que circulam sempre com a mais profunda formalidade. Na primeira instrução, me foi revelada a simbologia Dos meus instrumentos de trabalho na Maçonaria. Simbologia esta ligada ao Egito, cheia de alegorias, Com os quais, como Apr:., a Pedra Bruta eu desbastaria. O Ven:. M:. me mostrou a Régua com a qual eu trabalharia, Meditaria e descansaria, em equilíbrio, nas 24 horas do dia. Na Pedra Bruta, a Régua é a Altura, a Exaltação, a Maestria, Símbolo da Ciência, de Minerva, deusa da Sabedoria. O Ir:. 1º Vig:. me mostrou o Maço, sem o qual nada faço. Desbasto com ele a Pedra Bruta – Apr:. – na sua Profundidade. É o meu Querer, minha Iniciação nessa Aug:. Irmandade, E simboliza a Força de Hércules, que é a Força da Vontade. O Ir:. 2º Vig:. me mostrou o Cinzel, que me lembra o meu papel De dar forma à Pedra Bruta na sua Largura, com firmeza. É a Elevação a Companheiro, que tem lugar ao sul, com certeza, E é símbolo da Consciência e de Vênus, deusa da real Beleza Na rica segunda instrução, repleta da mais profunda simbologia, O Painel da Loj:. me foi descrito, com esmerada maestria. A forma da Loj:., de cima a baixo, do norte ao sul, de leste a oeste, Bem como as Colunas, Jônica, Dórica e Coríntia, e a Abóbada Celeste. Também o Sol, a Gl:. do Criador, símbolo da Caridade, E o Pavimento Mosaico, a harmonia da Fraternidade. Além da Orla Dentada, símbolo do Amor que tudo movimenta, Vi a Escada de Jacó, e o Livro da Lei que a sustenta. O Compasso, e as três Joias móveis, com seu significado – Esquadro, Nível e Prumo –, tudo me foi muito bem explicado. E as 3 Joias fixas: a Prancheta da Loj:., da Arte Real o traçado, A Pedra Bruta, homem a ser desbastado, e a Cúbica, à prova do Esquadro. Como já falei algo sobre a minha iniciação, Que é tema central da terceira instrução, Repetir tal instrução redundante seria. Vou então à quarta, que fala sobre o que é a Maçonaria. Sua base é Deus, e sua regra a Lei Natural. Sua causa é a Verdade, a Liberdade e a Lei de Moral. Seus princípios são a Igualdade, a Fraternidade e a Caridade, E seus os frutos a Virtude, o Progresso e a Sociabilidade. É preciso, nesta justa e perfeita Loj:. de São João, Que três governem, cinco componham e sete completem. E são pelo S:., T:. e P:., que não são em vão, Que como Maç:. MM:. IIr:. M:. R:.. Das duas CCol:., ocas e de bronze, vi a dimensão, E antes de ir para a quinta instrução, Vi que as CCol:. são encimadas por romãs. Por isso, afirmo: as simbologias não são vãs. Na quinta instrução, a magnitude do quadrilongo T:., Cujas medidas não se deformam com o tempo. Sua altura é da Terra ao firmamento, E do Or:. ao Oc:. é o seu comprimento. Sua largura é do N:. ao S:., a bem da Verdade, E da superfície ao centro da Terra é a sua profundidade. Eis a universal Maçonaria, em sua majestosa imensidade. Porém, mais mistérios me foram revelados sobre essa realidade. É no Or:., símbolo da Luz do Sol, que vem do Leste ao Oeste, Que se situa, em nossa Loj, o pilar da Sabedoria, o Ven:. M:. No Oc:., tem assento a Força, Luz do 1º Vig:., Aquele que paga o salário, nobre hierofante. O 2º observa o Sol no meridiano, na Col:. da Beleza. Guardião do trabalho e da recreação, zela pela ordem e exatidão. C:. Apr:., n:. s:. l:. n:. e:., s:. a:. s:. Por isso, não posso a P:. S:. pronunciar. Este tema inicia a sexta instrução, junto com o T:. e o S:., Além da explicação sobre a roupa do pedreiro, o Avental. Além disso, muito mais esta sexta instrução nos ensina, Como as CCol:. que sustentam a Abóbada da Of:., Doze dos signos zodiacais, três dos Pilares das Luzes, capitais, E mais os dois à entrada, J e B, chamados solsticiais. Nessa A:. R:. L:. S:., com solicitude, Aprendi a levantar TT:. à Virtude E cavar profundas masmorras ao Vício, Seja nos equinócios ou nos solstícios. Na sétima e última instrução do meu Grau, A importância dos números na Arte Real. Na história mundial, Oriental e Ocidental, E nas relações com o mundo físico e o espiritual. Primeiro o número 1, símbolo da real Unidade, Que está em sentimento, na nossa intimidade. Ponte do Absoluto para a relatividade, Para a diversidade, multiplicidade. Depois, o terrível 2, do antagonismo, da separatividade, Que divide as coisas em Bem e Mal, Falso e Verdade, Dia e Noite, Luz e Trevas, Inércia e Mobilidade. Por isso passo adiante, falando sobre a Trindade. A inúmeros símbolos o número 3 está relacionado. No T:., aos 3 pilares, às 3 Luzes, ao Delta Sagrado. Na Ordem, aos 3 graus, do aprendizado ao mestrado. No maçom, às três qualidades das quais nunca deve estar separado. Qualidades da Vontade, do Amor e da Inteligência. Mas 3 também é símbolo de Religião, Filosofia e Ciência, Da Trindade Cristã, das Gunas e da Trimurti do Hinduísmo, E das Trindades que sustentam todos os demais ismos. Por fim, o número 4, IOD-HE-VAU-HE do Delta, cheguei a estudar, Nesse Tetragrama de 3 letras, muito ocultismo sei que há, Simboliza a Evolução, “tudo o que existiu, existe e existirá”. E 4 são os elementos que enfrentei, Terra, Fogo, Água e Ar. Ainda como Apr:., as Escolas Maçônicas estudei, de forma avulsa, Tanto a Autêntica, quanto a Antropológica, a Mística e a Oculta. A Autêntica é histórica, só considera o que tem ata, o que é documental. A Antropológica, mais ampla, pinturas, esculturas, tudo o que é pictorial. Já a Mística investiga os mistérios divinos, para o despertar espiritual. E a Oculta liga-se mais ao sacramento, ao cerimonial, ao ritual. Trabalhando do meio-dia à meia-noite, como fazia Zoroastro, Aprendi o que me foi ensinado, e já tendo a idade de t:. a:., Solicito permissão para observar o Sol, nosso astro, Como Comp:., do ponto de vista do meridiano.

Fundado em 31 de maio de 2006 - ANO VIII
Rio de Janeiro – RJ – Brasil

0 MESTRE INTERIOR – NO TEMPLO


A porta do Templo é um símbolo de acesso ao interior, onde está oculta a verdade e outros tesouros. Quando solicitamos a entrada no Templo interior, somos questionados “Quem é o temerário que ousa interromper as nossas meditações”, e o nosso guia interior responde que é um candidato que não é escravo das paixões e desejos e que não é de maus costumes, pois, no Templo da verdade e da sabedoria, não entra quem é preconceituoso e possui péssimos costumes. Caso não tenhamos o desejo sincero de buscar a verdade, poderemos ser impedidos pela espada do guardião, que impede a entrada de curiosos temerários, invasores profanos e dos mercadores do santuário. Fazemos uma oração para solicitar o auxílio nos momentos de perigo, durante o trajeto na senda. Sabemos que o vício nos arrasta para o mal e que devemos ter disposição na alma para a prática do bem. As coisas boas da vida, a doçura, podem se transformar de uma hora para outra em amargor, em decepções, e temos que estar preparados para isso, Cristo passou por dores e momentos insuportáveis, os momentos difíceis nos deixam vulneráveis. Ao curioso que pensa somente em adquirir poderes, estabilidade financeira com riquezas e auxílios mútuos, e se esquecem do desenvolvimento espiritual, sentem a desilusão, porque, os espera um cálice de amargura, que ao ser apresentado a Cristo, este exclamou: “Pai, se é possível, afasta de mim este cálice”. O verdadeiro postulante, consegue absorver a mudança das doçuras da vida em amargor, e tem fé que o amargor se transforme novamente em doçura pela conhecimento da verdade. Temos que percorrer um caminho difícil e tortuoso, os obstáculos e a instabilidade do tempo (ar), com chuvas e trovoadas, e nessa viagem, começamos o trajeto na realidade exterior (ocidente), e passamos pela noite escura do norte utilizando apenas a visão intelectual, caminhamos com dificuldade, até podermos chegar ao lugar de luz (oriente), após conseguirmos a iluminação da consciência, não poderemos ficar parados neste local, não podemos guardar a luz, temos que levá-la aos que ainda se encontram no mundo material sem luz (ocidente). Temos que ter ciência que representamos o símbolo da sociedade, onde a inteligência de um pequeno grupo conduz as massas ignorantes que não podem se governar. O processo de busca da luz é contínuo, quando estivermos mais esclarecidos poderemos percorrer um caminho mais plano, ainda poderemos ouvir o som dos combates da vida, tinir de espadas, mas, ao final deste caminho, o nosso guia nos leva a uma fonte de água para purificarmos a alma. Novamente temos a demonstração da solidariedade humana. Então, seguimos por um caminho livre de obstáculos, podemos ouvir o crepitar das chamas durante este trajeto e sentimos o calor do fogo, que, além de purificador é o símbolo da descida do Espírito sobre a matéria. Estaremos aptos a nos submeter à terrível prova do batismo do heroísmo, do mártir, oferecemos o nosso fluido vital (sangue). Então, poderemos receber o selo da fé e da caridade em nosso peito. Devemos procurar auxiliar e socorrer os necessitados, os miseráveis e deserdados da fortuna, não podemos ser vaidosos e fazer doações com orgulho, humilhando a quem recebe as nossas dádivas, sentimos a angústia em nosso coração diante da impossibilidade de socorrer os miseráveis e necessitados. Com a prática da caridade, juramos fidelidade ao dever, e retiramos a venda material que nos cobria os olhos, podemos finalmente ver a luz. Somos consagrados e nos tornamos justos e perfeitos. Nascemos de novo, cumprimos o que disse o Divino Mestre Jesus: “O REINO DE DEUS ESTÁ DENTRO DE VÓS”

Pedro Neves .’. M.’. I.’. 33.’.
Esta obra está licenciada sob uma Licença Creative Commons. Você pode copiar, distribuir, exibir, executar, desde que seja dado crédito ao autor original ("você deve citar a autoria de Pedro Neves e o e-mail, neves.pedro@gmail.com). Você não pode fazer uso comercial desta obra. Você não pode criar obras derivadas.

A FREQÜÊNCIA AOS TRABALHOS


Ir. José Soares Barbosa, 33°, M\ I\

As parábolas sempre ilustram com muita força e até com certa dramaticidade os ensinamentos morais. A freqüência dos irmãos aos trabalhos é um dos itens constantes de todas as pautas das reuniões.

Há os que não vão aos trabalhos da oficina, porque acham que a mesma nada mais tem a lhes ensinar. São os presunçosos. Se forem telhados, não sabem fazer o sinal de Aprendiz. Há os que não vão à Oficina porque acham que as reuniões se tornaram desinteressantes e monótonas. Estes fazem parte daquele grande grupo que entraram para à Maçonaria, mas a Maçonaria não entrou neles. Acham as reuniões desinteressantes mais nada fazem para torná-las melhores. São os reformistas e críticos de palavras, nada fazem porque faltam-lhes luzes para fazer, ou porque são egoístas, não querem dividir os seus conhecimentos, quando raramente possuem algum, são os verdadeiros inoperantes da Ordem.

Os argumentos, de todos os grupos de faltosos, são extremamente frágeis e na realidade se baseiam, também com a Maçonaria em três colunas, ou melhor, três antes coluna: a ignorância, o desinteresse e o perjúrio. Ser perjúrio não é somente quem revela os nossos segredos Iniciáticos, mas também é perjúrio aquele que não cumpre com as obrigações contraídas para com a sublime Ordem no Cerimonial da Iniciação.

Outro dia encontramos um destes pseudo irmão e perguntei-lhe: por que não tens mais ido à Loja? – ao que ele me respondeu de pronto: para que, só para bater malhetes? – Então lhe repliquei: sabes o que significa “bater malhetes”? – Ele se coçou todo, gaguejou, desculpou-se e se escafedeu-se deixando atrás de si a poeira ofuscante da sua ignorância.

Aprendemos com um Mestre, a quem respeitamos e admiramos uma parábola que vamos aqui tentar reproduzir aos irmãos.

Londres, fria, úmida, nevoenta e cinzenta, havia num bairro um templo religioso, possivelmente Anglicano, no qual pregava um mesmo pastor há mais de vinte anos. E os Londrinos, como os ingleses de um modo geral, são extremamente tradicionalistas e naquele Templo, vinham fiéis das redondezas, sempre os mesmos, sempre ocupando os mesmos lugares, a sucessão de cada semana e desta forma todos já se conheciam pelos nomes conforme devem ser os Maçons em Loja.

Num certo final de semana, o pastor notou ausente, uma cadeira que estava vazia e era a cadeira de um dos mais assíduos fiéis.

O pastor preocupou-se, mas passado o culto, o fato foi esquecido, absorvido que foi o pastor pelas suas outras atividades.

Nova semana, novo culto, e novamente a mesma cadeira vazia, o pastor perguntou aos fiéis: alguém viu o fulano, estaria doente, estaria acontecendo alguma coisa? – Ninguém soube responder.

Na semana seguinte o fato se repetiu pela terceira vez e o pastor, após o culto resolveu visitar o fiel.

Chegando lá, encontrou-o à beira da lareira, em frente ao fogo. Então o pastor lhe perguntou:

- Estás doente?

O fiel lhe respondeu:

- Não, estou muito bem de saúde.

E o pastor replicou:

- Estás com algum outro problema?

O fiel lhe respondeu:

- Não, não estou com problema nenhum, muito pelo contrário, estou muito bem:

Então o pastor lhe admoestou:

- Mas não tens ido mais ao culto...

Dito isso o fiel dirigindo-se ao pastor disse:

- Eu frequento aquele culto há mais de vinte anos, sento naquela cadeira, efetuo as orações e entôo os mesmos hinos, durante todo este tempo eu já aprendi tudo de culto, sei todo o livro do culto de cór. Então eu acho que não preciso mais ir lá, por isso não estou indo.

Atônito, o pastor pensou um pouco, dirigiu-se à lareira, atiçou o fogo e de lá retirou a maior das brasas que se encontrava na lareira, colocando-a sobre a saleira de mármore da janela, ante o olhar curioso do fiel.

A brasa, em questões de minutos, perdeu o brilho, se revestiu de uma túnica cinzenta, transformando-se em carvão e cinza, fora do convívio com as outras brasas.

O fiel levantou-se colocando as mãos na cabeça, disse:

Por favor, homem para com isso, eu compreendi a lição.

Doravante não mais faltarei ao culto.

Tornando-se, a partir daquele dia, a cadeira, novamente ocupada.

Meus irmãos, os Maçons são como as brasas, para manterem a luz dos conhecimentos, o calor da fraternidade e a chama do ideal, necessário é, que estejam no convívio permanente das outras brasas.

Não faz Maçonaria fora do Templo. A Maçonaria que se pratica na vida profana é uma obrigação do iniciado e é reativada à cada Sessão, como uma espécie de bateria que precisa ser recarregada.

Se algum irmão acha que nada mais tem aprender, então ele dever ter atingido a Gnose perfeita e é chegado o momento dele começar a ensinar.